Na vida, um minuto a mais
é mais um minuto a menos.
Em certos momentos a gente não tem como fugir da sensação de que está gastando um capital que se aproxima perigosamente do fim. Quando a gente nasce, é como se alguém tivesse depositado em nossa conta, num Banco Cósmico qualquer, um determinado número de minutos: 30 milhões, 437 mil, etc. e tal. Depois desse depósito inicial a conta é fechada e pode-se apenas sacar: um minuto por vez.
O problema é que a gente é obrigado a ficar fazendo esses saques, mas não consegue acessar a conta para saber o saldo que nos resta. “Quanto será que ainda tenho? Um milhão de minutos, ou meia-dúzia?”
Um minuto a mais de passado é um minuto a menos de futuro. Para levantar o astral, podemos inverter o raciocínio. Na verdade, nosso capital não está sendo torrado em vão. A conta de onde o sacamos não é uma conta pessoal nossa, é uma espécie de auxílio-desemprego anônimo e coletivo onde todo cidadão tem o direito de sacar um minuto por minuto, um dia por dia ou um ano por ano. E quando sacamos desse fundo-de-pensão coletivo levamos o rico dinheirinho e o depositamos em uma conta nossa, personalizada, registrada em nosso nome, no Banco do Passado.
Estes minutos ou dias que vivemos são nossos, e ninguém nos toma. Não poderemos retirá-los de novo, mas a verdade é que vivemos dos juros simbólicos que este tempo vivido nos rende.
A vida inteira ficamos oscilando entre estas duas atitudes: que o Futuro é mais real do que o Passado, ou vice-versa.
Na primeira hipótese, é como se atravessássemos uma ponte de pedra sobre um abismo, e a cada passo o lugar que acabamos de deixar desmoronasse; para não cair, só nos resta seguir sempre em frente, sem possibilidade de retorno, porque o único terreno firme é aquele onde nosso pé vai pisar no próximo passo.
Na segunda hipótese, caminhamos por uma ponte de pedra que se estende às nossas costas e à frente se interrompe no vazio; não vemos nada adiante, não sabemos se estaremos vivos no minuto seguinte; mas, como por milagre, cada vez que pousamos nosso pé no vazio a ponte se expande para a frente, dá apoio ao nosso pé – ela vai sendo criada por nós mesmos à medida que avançamos.
Estas metáforas são tipicamente ocidentais; vem da cultura grega esse hábito de racionalizarmos tudo em termos de Aritmética ou de Geometria, de visualizar o Tempo como se ele fosse algo análogo ao Espaço.
Temos uma mentalidade analógica, precisamos ver um ponteirinho correndo ao longo de um mostrador, qualquer coisa que nos dê a percepção visual do Todo, do Quanto Passou, e do Quanto Falta.
Vai ver que é por isso que os jovens são tão agitados e os velhos tão vagarosos. Quando você tem vinte anos, torra num fim-de-semana o capital-Tempo referente a um mês. Quando você já dobrou o Cabo da Boa Esperança, você pega cada minuto e mói, espreme, suga, absorve e saboreia cada fraçãozinha de centavo.
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