No mundo dos games, há gostos para tudo, mas pode-se considerar como
franquias/séries fundadoras títulos como Super
Mario Bros, Prince of Persia, Monkey Island, Grim Fandango, The Sims, The Legend of Zelda, Skyrim, Final Fantasy, Metal Gear, Grand Theft Auto, Fallout,
Myst, Red Dead Redemption, Assassin’s
Creed, Shadow of the Colossus...
Estou falando apenas dos que já joguei algumas horas, uma vez ou outra. Tem
muito mais coisas.
Estou começando a considerar uma variável nova nessa
equação: é a famigerada Inteligência Artificial.
Se algo já estiver presente, como idéia, na cultura de um povo; se for
tecnicamente possível, e não for economicamente inviável, provavelmente
acontecerá. E a Inteligência Artificial, com todos os seus prós e contras, suas
promessas e ameaças, com todo o seu brotar-desarrumando, já fincou sua bandeira
em terra habitada.
A invenção de tecnologias de produzir imagens animadas fez as redes
sociais virarem uma proliferação de grotesquerias, no bom e no mau sentido.
Quem tem tempo, grana, imaginação e curiosidade está tendo a chance de
participar de um momento fundador na história das Imagens Luminosas em Movimento
(nem vou falar de texto ou de imagem fixa, porque aí o céu é o limite).
Os algoritmos das redes sociais têm feito pousar nas minhas timelines os trabalhos de gente que não
conheço, com experiências curiosas. Esses artistas usam o fenomenal banco de
imagens da I.A. (feito às custas de muita pirataria e pilhagem de trabalhos
individuais, é bom lembrar), e começam a alterar essas imagens, interferir
nelas, recombiná-las com imagens de outras estirpes, e criar com isso pequenas
miniaturas animadas.
Aqui estão alguns exemplos vistos ultimamente. Alguém pode dizer: “Que
coisa horrorosa! Então todas as animações por I. A. da Internet são coisas de
filme de terror?...”
Minha resposta: Não, não é, e deve haver a esta altura um bilhão de animações
com anjinhos barrocos, colibris gorjeantes, greguinhos de toga tocando harpa, e
sei lá mais o quê. O algoritmo folheia isso e diz aos sub-algoritmos: “Não
mandem isso para BT, ele não curte, ele gosta é de fantasmas, monstros
alienígenas, esqueletos, ciência gótica, aventura steampunk...” – e não estará muito longe da verdade.
Aqui vão algumas séries de imagens que recolhi e compartilhei no
Facebook ultimamente. São trechinhos curtos, visivelmente imagens recicladas
mediante um “prompt”, com resultado
equivalente aos famosos “GIFs animados”, a novidade de quinze anos atrás, por
aí.
Fico comovido com as imagens da série The Rage of Angels, de Alexandra Gorsf (podem ser acessadas aqui:)
https://www.facebook.com/watch/?v=3086375484843007
Elas fazem uma síntese curiosa entre o Fofo e o Horripilante,
misturando criancinhas angelicais e insetos monstruosos.
Um trabalho muito detalhado e inquietante é o de Fredrik Jonsson, com a
série “Mechanimal” (com criaturas híbridas e animal e robôs), outra série
mostrando grupos de cientistas investigando, com toda calma e atenção,
criaturas monstruosas; e a série “Cloud Station” onde ele cria estações de trem
meio futuristas, meio steampunk, onde
evoluem personagens enigmáticos.
https://www.facebook.com/watch/?v=3086375484843007
https://www.youtube.com/@thevape5030
"Insignificant Episode 698":
Não sei avaliar como anda no mundo inteiro a criação desses clips, e
não tenho como saber até que ponto eles são feitos com o uso de Inteligência
Artificial. São, em última análise, uma série enorme de colagens de imagens
bizarras. Imagens com certos movimentos limitados, denunciando o uso de
Inteligência Artificial. Gestos mecânicos, meio erráticos, que não esperaríamos
de uma pessoa real.
São cenas curtas com duração de cinco a dez segundos, logo substituídas
por outras, sucessivamente. Não há narrativa, não há história. Tudo acontece
num limbo sem contexto, imagens se movendo e nada mais. Apenas o ambiente
fantástico, os personagens grotescos, os gestos limitados e repetitivos.
Esses clips acabam me trazendo à memória as primeiras experiências de
Georges Méliès (1861-1938), um dos pioneiros do cinema. Muita gente deve se
lembrar dele como o personagem interpretado por Ben Kingsley no filme A Invenção de Hugo Cabret (2011), de
Martin Scorsese.
Méliès foi o primeiro cineasta a pesquisar, descobrir e aplicar sistematicamente todo o arsenal de efeitos especiais resultantes da natureza mecânica do equipamento cinematográfico: a filmagem interrompida, a câmera lenta, a câmera acelerada, a superposição de imagens, etc.
Méliès acabou evoluindo para o filme narrativo, mas seus primeiros
filmes de curtíssima metragem eram somente isto: episódios isolados, de poucos
segundos, com o único propósito de explorar um novo truque, um novo efeito. Essa
novidade técnica seduzia as platéias, tal como hoje nos deslumbra o fato de
vermos em movimento essas imagens de I.A., híbridas, superpostas, improváveis,
impossíveis.
Minha expectativa é que aos poucos essas três vertentes fundamentais
irão convergindo para formar "o Algo", a arte típica do século 21:
a)
A Inteligência Artificial trará seu acervo
pilhado e pirateado de toda a cultura mundial, e a brutal aceleração de seus
algoritmos turbinados, capazes de copiar, cortar e colar as imagens mais
diversas num piscar de olhos, de acordo com qualquer prompt do usuário;
Méliès foi o primeiro cineasta a pesquisar, descobrir e aplicar sistematicamente todo o arsenal de efeitos especiais resultantes da natureza mecânica do equipamento cinematográfico: a filmagem interrompida, a câmera lenta, a câmera acelerada, a superposição de imagens, etc.
b)
O Videogame trará a interatividade, a
participação ativa e a interferência constante do usuário/espectador na
narrativa, a possibilidade de viajar por dentro de universos minuciosamente
planejados para reagir à sua presença, produzindo uma infinita ramificação de situações
e experiências;
c)
O Cinema trará a dramaturgia, o senso narrativo,
a capacidade de criar personagens e situações humanas com densidade suficiente para atrair,
segurar e satisfazer por duas ou três horas ininterruptas a atenção de um
público (individual ou coletivo).
As possibilidades, como sempre, são infinitas.
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