Esta expressão vive na moda, e nunca deixa de me irritar um pouco. Pessoas dizem: “Ah, eu exijo sempre o melhor.” À primeira vista, parece birra minha com quem é muito rico. Pela lógica vigente, o melhor é sempre o mais caro. Se o vinho A custa 30 reais e o vinho B custa 40, B é melhor do que A. Um carro que custa 100 mil reais, então, é necessariamente melhor do que um carro que custa 50 mil, e se o seu carro custou 50 você deveria se esforçar mais, trabalhar mais, produzir mais, ganhar mais, para poder ter o que realmente importa, o carro de 100 mil. (Depois vai entrar em cena o carro de 200 mil, e tudo recomeça. É uma extorsão fractal expansiva.)
A neurose consumista é sem cura. Quando a conversa chega aí,
eu me faço de doido e mudo de assunto. Mas o mesmo sintoma reaparece quando
alguém me pede dicas de leitura. Quem pede dica de leitura muitas vezes o faz
porque tem pouco tempo para ler, quer ir direto ao filé. Eu vivo cercado por
pessoas que trabalham mais do que eu, trabalham 10, 12, 14 horas por dia. (Eu
também; mas metade desse tempo é lendo. Não sei se devo considerar minha leitura
como trabalho, até porque tenho prazer nela, e diz o catecismo puritano que
trabalho que dá prazer não é trabalho e não deveria ser remunerado.)
“BT, eu não conheço muito a literatura policial. Quem é o
melhor autor policial?” Eu respondo: “Bem, você poderia ler Raymond Chandler.
Ou Ruth Rendell. Ou Cornell Woolrich.” Mas aí a pessoa diz: “Mas quem é o
melhor de todos?” Eu respondo: “Olha, em literatura não existe isso de ‘o
melhor’. Tudo é muito subjetivo.” E aí
vem a frase definitiva, que já ouvi tantas vezes: “Ah, sinto muito, eu não
tenho tempo pra ficar testando. Quero conhecer o melhor. Se não sabem quem é o
melhor, não pode prestar”.
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