No Brasil, Umberto Eco publicou nos anos 1980 um best-seller
incontestável (O Nome da Rosa) e depois um anti-best-seller (O Pêndulo de
Foucault). A enorme vendagem do primeiro livro, pela Nova Fronteira, deve ter
animado a Editora Record a arrebatar os direitos do segundo, que vendeu muito
abaixo do esperado. Quase todos os exemplares dos sebos e da Estante Virtual
são dessa edição que encalhou, a de 1989. Uma injustiça, pois para mim os dois
livros são igualmente bons. (Se o encalhe fosse do primeiro, todo mundo diria:
“Mas é claro! Uma história de frades medievais, cheia de termos em latim, quem
vai comprar isso?!”).
O Pêndulo é um livro tão complicado e divertido quanto o
anterior, com o bônus de ser contemporâneo. Sua sátira fere mais rente o
pensamento ocidental, misturando alquimia, teoria da conspiração, mercado
editorial, política, melodrama rocambolesco, Cabala, candomblé. Esta última
parte pertence ao longo trecho ambientado no Brasil (capítulos 23 a 33). O
argumento dos conspiradores que inventam uma conspiração e depois são engolidos
por ela seria meio que retomado por Eco em seu último romance, Número Zero (2015). No Nome da Rosa ele tinha homenageado Conan Doyle e Borges; no Pêndulo, dá para sentir o espírito de Dumas, de Fantomas e da revista
Planeta.
O romance é o que John Clute descreve como uma Fantasia da
História, uma narrativa que revela uma História Secreta do Mundo. A erudição
que Eco derrama nele não é nem excessiva nem extemporânea, porque o tema da
obra é justamente a proliferação de interpretações místicas, mirabolantes e
paranóicas que vêm atordoando o mundo ocidental desde o Renascimento. O romance
segue a estrutura rígida e arbitrária dos “sephiroth” da Cabala, mas pelas suas
fendas faz brotar uma jângal indisciplinada de teorias fantasiosas, hipóteses
herméticas, narrativas ocultas. Eco cita uma ironia de Chesterton, para quem,
quando se deixa de acreditar em Deus, não é para acreditar em uma outra coisa,
é para sair acreditando em tudo quanto aparece pela frente.
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