quarta-feira, 29 de julho de 2015

3879) Gótico Sulista (30.7.2015)




(foto de William Faulkner)

Lendo artigos sobre a primeira temporada da série True Detective, ambientada na Louisiana, cheguei ao chamado “Southern Gothic”. 

O “Gótico Sulista” é o nome dado a um certo viés literário de autores do Sul dos EUA como William Faulkner, Flannery O’Connor, Harper Lee, Barry Hannah, Zora Neale Hurston, etc. 

Um artigo do escritor MO Walsh (aqui: http://tinyurl.com/otpjtx3) faz um balanço do que seria esse subgênero, que aqui e acolá, à mercê dos inesperados de cada autor, roça pela literatura fantástica. É gótico pelo fatalismo, pela visão quaderniana do mundo como uma caatinga áspera e pedregosa sob um sol assassino. (Há um gótico noturno e um gótico ensolarado – como o gótico-mangue de Anne Rice, que pode ser tropical sem deixar de ser tenebroso.)

Walsh diz que os autores do gótico sulista sabem do que estão falando: conhecem a terra, sua cultura, seu modo de ser. Não são alguém que escolheu aquela região pelo exotismo; eles nasceram e viveram ali. Seus personagens são considerados grotescos pela crítica, mas, segundo Walsh, 

“... embora sejam personagens deformados ou intolerantes ou violentos, nas mãos de um escritor sulista são descritos com empatia e verdade. (...) Isto não é ser grotesco. É uma vida dura e um trabalho duro, e esses personagens apenas mostram cicatrizes visíveis daquilo que muitos de nós carregamos em nosso íntimo.”

A relação com a literatura oral é forte no Sul; esses autores “estão ligados pela tradição oral de contar histórias na varanda, e se deleitam com a construção de frases fora do comum.”  O mesmo quanto à presença da violência nas obras: “Todos os romances [desse grupo] envolvem situações-limite. (...) As vidas das pessoas estão em jogo, tanto quanto a vida dos leitores desde o momento em que acordam até o momento de fechar os olhos.”

Walsh finaliza dizendo que a história cruel, violenta e socialmente injusta do Sul produziu personagens como o pobre diabo (“underdog”), personagem sulista por excelência, que sempre acha que está fazendo a coisa certa mas vê o mundo voltar-se contra ele. 

E cita a frase do advogado Atticus Finch em O Sol é Para Todos: “O fato de que já fomos derrotados cem anos antes do nosso nascimento não é motivo para achar que não podemos vencer.”

O Sul dos EUA é muito comparado ao Nordeste brasileiro: uma região agrária, com grandes proprietários de terra, com escravos, que aos poucos ficou para trás de outra região, mais industrializada, mais moderna, mais urbana. O grande escritor é o que capta a vibração dos dramas específicos de cada uma e as utiliza para contar histórias que assinalam como uma marca dágua a psicologia de uma cultura.







2 comentários:

Unknown disse...

Olá, Sr. Bráulio Tavares,
sou jornalista recém-formada pelo UNI-BH de Belo Horizonte e estudo o Southern Gothic há um bom tempo (no contexto das subculturas do Gótico). Esse ano iniciei um projeto acadêmico sobre o assunto e pretendo publicá-lo futuramente num blog ou site exclusivo. Dadas as circunstâncias, faço esse meu primeiro contato. Tinha me deparado com o seu artigo no Jornal da Paraíba e felizmente agora o encontrei nesse blog, pensei que o havia perdido. Se não for muito incômodo, gostaria de contatá-lo para conversarmos mais a respeito do Southern Gothic. Me identifiquei bastante com o seu artigo e também já havia recorrido as linhas de MO Walsh no The Guardian no ato de minhas pesquisas. O Sr. teria um e-mail para eu expor melhor esse meu projeto? Sua opinião e conhecimento realmente são de grande importância para mim, ainda mais se tratando de um tema que em nosso país ainda é visto como novidade.
Desde já me faço grata pela sua atenção.

Att,
Paula Alvez.

Braulio Tavares disse...

Olá, Paula. Obrigado pelo seu interesse. Pode me contactar por este email: btavares13@terra.com.br