sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

3718) Humberto Teixeira 100 anos (23.1.2015)



No dia 5 de janeiro passado foi comemorado o centenário de nascimento de Humberto Teixeira (1915-1979), o primeiro grande parceiro de Luiz Gonzaga, a quem coube criar o baião junto com o sanfoneiro do Exu.  

Humberto foi uma figura muito diferente de Gonzaga.  Trouxe para o baião o lado literário, urbano e culto, enquanto Gonzaga forneceu o talento telúrico. 

Nascido no Iguatu (CE), teve formação musical desde a infância, tocando flauta e bandolim.  

Ao contrário do que se imagina, não era apenas “o letrista de Gonzagão”. Também compunha melodias, e sem dúvida há muitas parcerias dos dois em que ele fez o principal da letra e da música, e Gonzaga contribuiu com arranjo, floreios, refrão, etc.  Em qualquer parceria musical existem diferentes proporções da participação de cada um, não é aquela coisa mecânica de “A faz a letra e B faz a música”.

Estudando em Fortaleza, Humberto participou de grupos musicais e chegou até a acompanhar filmes mudos ao vivo, como se fazia na época.  

Já no Rio, largou estudos de medicina e formou-se em Direito. Foi vendedor de óculos rayban, foi agente de restaurante, foi telefonista.  Enquanto isso, compunha por conta própria. 

Já tinha mais de 100 músicas editadas quando, através do seu cunhado Lauro Maia (também cearense e compositor), conheceu Gonzaga; a história da criação e do sucesso do baião já é conhecida de todos.

Humberto queixava-se da historiografia da MPB, que, passava direto das canções românticas dos anos 1940 para a Bossa Nova dos anos 1950 sem mencionar que nesse intervalo houve dez anos em que só tocava baião no Brasil. 

Foi deputado federal pelo Ceará, mas ele mesmo dizia: “Política é um negócio que você tem que usar de muitas éticas, e a minha ética é uma só”.  Trabalhou muito pela implantação dos direitos autorais e pela divulgação da música brasileira no exterior, criando caravanas que percorreram muitos países. 

A parceria com Gonzaga foi interrompida porque naquele tempo (vejam só) era proibido registrar músicas de parceiros que pertencessem a entidades arrecadadoras diferentes. Quando Gonzaga foi para a SBACEM, Humberto decidiu permanecer fiel à UBC e a dupla se desfez. 

Ainda assim, não saíram perdendo: Gonzaga engatou a parceria com Zédantas, e Humberto passou a assinar sozinho suas músicas, a começar pelo baião “Kalu”, gravado por Dalva de Oliveira, Yves Montand, Edith Piaf e mais umas 60 gravações mundo afora.  

Vale a pena procurar o filme O Homem Que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira e o livro Humberto Teixeira, voz e pensamento (Banco do Nordeste, Fortaleza, 2006) para conhecer melhor esse poeta que fez História.









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