terça-feira, 18 de novembro de 2014

3661) A Vida e os Tempos de Valdemar Pompéia (18.11.2014)



Cap. 1 – De como Valdemar ficou devendo dinheiro à galera da sinuca, e eles o ameaçaram de uma surra. Cap. 2 – De como ele e dois amigos emboscaram o líder dos marginais e deram a surra nele próprio. Cap. 3 – De como no dia seguinte ele se gabou na cidade inteira. Cap. 4 – De como na terceira noite o sujeito retornou na companhia de mais cinco, todos armados, deu uma surra nele, amarrou-o na linha do trem, pela qual deveria passar um trem daí a meia hora, e se afastaram, e ele ficou atado sobre os dormentes, pensando: “É, agora fudeu.”

Cap. 5 – De como ele, com tempo para pensar, lembrou suas leituras de ocultismo e encantações mágicas.  Cap. 6 - De como ele ficou endividado com a galera da sinuca justamente por ter tentado clonagem alquímica de alguns cordões de ouro e relógios Rolex, que acabaram virando alumínio. Cap. 7 – De como no meio daquela babel de irrelevâncias havia fórmulas que funcionavam mesmo, e não é que Valdemar pronunciou uma delas, em autêntico desespero de causa, seis minutos antes que o trem apontasse no horizonte visível.

Cap. 8 -  De como esse encantamento é um string de sensações, palavras, imagens visuais, cheiros, etc., uma espécie de sistema numérico de Funes, só que sinestésico, incluindo como “números” (que ele deve receber e reproduzir mentalmente) notas musicais, frases inteiras, aromas, cores, padrões geométricos... Enfim.  Cap. 9 - De como, mercê desse recurso, ele conseguiu concentrar sua mente-de-baixo (liberada da vigilância da mente-de-cima, que está entretida com o ping-pong sinestésico) concentrou suas forças e retardou o trem. Mesmo. 

Cap. 10 – De como anos devem ter se passado, porque onde havia um gramado ao longo da ferrovia existem agora árvores totalmente crescidas, ele vê a uma certa distância uma agora estrada por onde agora passam automóveis, e, do lado oposto dos trilhos, o muro alto de uma casa; ele não entende; sabe apenas que está detendo o trem, está impedindo que ele se aproxime; que na linha férrea o Tempo está parado, ou pelo menos avança a passo de caracol, enquanto em redor dela o tempo flui normalmente.  Cap. 11 – De como um dia dois operários estão consertando um dormente perto dos pés dele (sem vê-lo, claro) e um deles menciona: “o Natal é na semana que vem”; e vão embora e ele se pergunta: “Sim... mas Natal de que ano?”  Nunca terá resposta.  Cap. 12 –  De como Valdemar, atado aos dormentes, vê passar minuto a minuto, ano após ano, o filme do futuro alheio, e resolve se consolar com isso da impossibilidade de um futuro seu, porque sendo invisível não há quem o liberte, mas quando encher o saco é só liberar o trem.


Um comentário:

Zulmira disse...

Conto? Que ideia magnífica para um romance!