(Cortázar, por Petros V.)
A literatura de Julio Cortázar é uma literatura da grande
metrópole, dos labirintos da grande cidade, que no seu caso é geralmente Paris,
com uma ou outra incursão por Buenos Aires.
Em O Jogo da Amarelinha, o protagonista Horácio Oliveira percorre as
ruas de Paris como uma agulha de vitrola percorre os sulcos de um disco, e do
atrito entre os dois brota uma sinfonia de paixões, desencontros, crises
existenciais, mortes, bebedeiras, cigarros, mates, esbarrões com o absurdo e o
surreal.
Cortázar era leitor profundo e concentrado dos surrealistas.
Uma das epígrafes do livro é uma carta de Jacques Vaché a André Breton: “Nada
acaba tanto com um homem como a obrigação de representar um país”. Coisas que passam pela cabeça de todo
migrante em metrópole alheia, vendo o olhar dos donos da cidade voltados para
ele e aquele enorme balloon de pensamento por cima de suas cabeças: “Ah...
então é assim que os paraibanos são.”
Oliveira percorre Paris à procura da Maga, a mulher que o
fascina, mesmo que ele negue estar apaixonado, mas, fiel ao impulso anárquico
dela, ele não marca encontros. Sai
vagando pelas ruas, indo visitar um sebo, ouvir música num clube de jazz, tomar
um café num “arrondissement” mais distante, e sabendo que ao chegar lá pode
encontrá-la sorrindo, como se estivesse à sua espera. Os dois habitam (diz ele) “um mundo onde você se movia como um
cavalo de xadrez que se movesse como uma torre que se movesse como um
bispo”. “Encontraria a Maga?” é a frase
de abertura do livro, e que cristaliza essa atitude. Acontecerá um milagre, somente pelo fato de eu ter saído andando
ao acaso pelas ruas da cidade?
O encontro casual dos amantes, deliberadamente
não-combinado, faz brotar a fagulha surrealista (o amor louco e o acaso
criativo) nessa Paris minuciosamente inventariada. (A edição da Cátedra,
Madrid, 1992, é bem anotada por Andrés Amorós, e cheia de fotos das esquinas e
cafés citados pelo autor). A
andarilhagem do intelectual argentino sem-tostão, à procura da estudante
uruguaia que tem “um passarinho na cabeça”
e um filho pequeno, mostra o quanto essa cidade era para ele um tesouro
de surpresas e de fatalidades:
Um comentário:
Este é, sem dúvida, um dos meus livros favoritos! Muito boa a sua leitura =)
Pergunta: cadê o gadget pra gente seguir o blog, Braulio??? =P
Beijão!
Postar um comentário