sexta-feira, 25 de junho de 2010
2191) Guerra ao Terror (17.3.2010)
Vendo este filme de Kathryn Bigelow, não foi difícil entender porque ganhou mais Oscars do que Avatar de James Cameron. Em primeiro lugar tratava-se, como a imprensa espremeu até a última gota de assunto, de uma disputa pessoal entre ex-esposa e ex-marido. Atrevo-me a dizer que todas as mulheres da Academia de Hollywood votaram no filme da ex-esposa, e os homens devem ter se dividido entre ele e os outros nove candidatos. Barbada. Há outro aspecto: era o filme de 11 milhões de dólares (o dela) contra o de 500 milhões (o dele). Por fim, o filme de Cameron é uma fantasia de animação (para mim metade do filme é tão animação quanto Fantasia de Walt Disney) e o de Bigelow é, surpreendentemente para uma mulher, um filme áspero e realista, um elogio àquilo que os EUA tanto prezam: sujeito durões fazendo um trabalho duro sem se deixar abater. Inclusive por escrúpulos morais.
É um excelente filme de ação, com narrativa seca, câmara na mão e montagem de cortes bruscos transmitindo uma sensação quase física de perigo, incerteza e envolvimento com uma ação em que tudo está o tempo todo por um fio e ninguém sabe exatamente o que está acontecendo. Para mim o grande diferencial deste filme em relação à maioria dos filmes sobre Vietnam, Guerra do Golfo e Iraque é que o tema do filme é a arte e a ciência de desarmar bombas. Isso faz dele menos um filme de carnagem (embora a carnagem aconteça) do que um filme de tensão e suspense, muito bem explorados pelo uso consciente de câmara, som (durante bem um terço do filme escutamos a respiração dos personagens), montagem. E interpretação, porque os atores, todos desconhecidos para mim, se saem muito bem.
Há um longo tiroteio no deserto em que a noção de tempo é bem explorada, dando-nos a sensação de estar acompanhando uma escaramuça em tempo real. Escaramuças desse tipo têm momentos alternados de tiroteio frenético e longas pausas em que cada um fica espreitando as intenções do outro. Aqui e acolá, tiros esparsos, muito bem alvejados, com direção. Um grande erro em filmes de guerra é tentar estabelecer um ritmo “emocional”: mostrar cenas de morte alternadas com cenas de bebedeira eufórica ou de saudades da família. Guerra ao Terror, mesmo pagando tributo a esses clichês, os empurra para segundo plano, e passa passar a impressão de um trabalho cotidiano em que a morte pode vir daí a um segundo, sem ser precedida por fanfarras, trombetas ou “Cavalgada das Valquírias” (que só funcionou bem quando Coppola fez pela primeira vez; de lá para cá virou um clichê insuportável).
Uma das últimas cenas mostra o desarmador de bombas defrontando-se, numa praça evacuada às pressas, com um iraquiano que grita e chora dizendo que não quer morrer. O técnico abre o paletó do sujeito e se depara com uma estrovenga cheia de cadeados, fivelas, detonadores, “timers”, e vê que não vai conseguir. Excelente metáfora. O Iraque vai morrer lutando, e os EUA não vão conseguir evitar.
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