sexta-feira, 7 de maio de 2010

2007) O império das máquinas (14.8.2009)



Meu pai tinha jeito para tarefas manuais e, embora botasse fé nos meus talentos poéticos, me achava meio desajeitado com os ofícios de natureza prática. Mesmo assim, me ensinou a usar martelo e chave de fenda, a bater prego (e a desentortar meus pregos mal batidos), a serrar tábuas (usando um toco de vela como lubrificante para o serrote), a usar máquina de escrever e mimeógrafo. Continuo desajeitado no mundo das engenhocas, mas tenho uma admiração silenciosa por alfaiates, mecânicos, eletricistas, marceneiros, linotipistas, pedreiros e todos os outros que fazem coisas feitas de matéria.

Li, no saite do New York Times, num artigo de Francis Fukuyama intitulado “Making things work”. Tenho uma antipatia natural por esse rapaz, autor (anos atrás) de um artigo arrogante intitulado O Fim da História, no qual afirmava que o modelo de sociedade capitalista-industrial-democrática era a conclusão natural da História humana e não poderia ser suplantado por nenhum outro modelo. Parece que Marx & Engels lhe rogaram uma praga atéia, que sem dúvida pega mais do que praga de macumba, porque – olhe o pantanal onde o Capitalismo se meteu!

Mas o artigo do NYT é muito bom. Fukuyama resenha o livro Shop Class as Soulcraft de Matthew B. Crawford, o qual denuncia que escolas de artes e ofícios (carpintaria, solda, marcenaria, etc.) estão sendo fechadas em todos os EUA porque as entidades que as administram precisam das verbas para criar laboratórios de informática. Crawford acha que o norte-americano médio está se transformando num sujeito que, em vez de ser capaz de consertar o próprio carro quando ele dá problema, espera uma luz vermelha acender no painel e leva o carro para uma oficina onde ele é conectado a um computador e consertado, sem que o dono tenha a menor noção do que foi feito.

O livro sugere, e Fukuyama concorda, que a queda dos ofícios manuais e o crescimento da informatização diminui o número de artesãos e técnicos e aumenta o número de burocratas. Haverá um decréscimo gradual no número de pessoas capazes de consertar um encanamento, uma rede elétrica, etc. Diz Fukuyama: “Seria difícil para mim não gostar deste livro. Mesmo que meu trabalho seja o conhecimento simbólico, eu sei andar de moto e sei fabricar móveis. Fiz a mesa da cozinha de minha casa, as camas onde dormem meus filhos, e reproduções de móveis antigos cujos originais não tenho dinheiro para comprar. Poucas coisas que criei me deram tanto prazer quanto esse objetos tangíveis que foram difíceis de fabricar e tiveram utilidade para outras pessoas. Aposentei minhas ferramentas há alguns anos, e hoje não tenho sequer alguém a quem possa presentear com elas, porque todo mundo está ocupado atualizando seus i-Phones. As artes e ofícios estão cada vez mais se tornando uma lembrança do passado”. Isto ocorre numa nação que sempre foi conhecida pela sua competência técnica; o que dizer de países cartorialistas e beletristas como o nosso?

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