sexta-feira, 9 de abril de 2010

1889) Contracapa de MP3 (29.3.2009)



& a compassividade do carrasco esperando o fim da última prece do condenado & em uma estação de trem nos confins nevoentos da Eternidade, Karl Marx e o coronel Aureliano Buendía trocam receitas de remédios para furúnculos & cada usuário de celular é uma mosca na teia de uma aranha de silício e diamantes & um trilhão de litros de água salobra estão enterrados no Piauí & você não viu, mas eu passei a noite na sombra da árvore, olhando a luz acesa & tão rápido quando o avançar das heras, comparado à sucessão das eras & tem uma hora da noite em que você não passa de um doido conversando com uma caveira e tendo apenas um coveiro por testemunha & sou um multiartista multimídia em carreira solo & uma batalha entre tigres e cachorros dálmatas numa montanha nevada & o ser humano é ao mesmo tempo o farol piscando desesperado e o navio que avança triunfal rumo aos rochedos & o que seria do capitalismo selvagem se não existissem as empregadas domésticas? & toda vez que eu decoro o calendário, chega janeiro e zera tudo & me disseram que os subúrbios do Cairo já estão chegando perto das Pirâmides, não dou dez anos para elas desaparecerem & ora, bastava misturar um canavial com uma parreira e engarrafar o resultado & o cifrão é uma nota musical que corresponde ao tilintar de uma moeda na mão de quem recebe & um país de gente com nomes oxítonos terminando em vogal, mas sonhando com sobrenomes cheios de K, W e Y & cuidado, o futuro é cheio de bifurcações mas lá na frente não tem retorno & Michelangelo, depois que um AVC o deixou mudo, discava números ao acaso e anotava num caderno o que ouvia & daqui a mil anos, só serão lidos os autores com nomes monossilábicos: Kant, Proust, Marx, Dick, Wells, Twain, Grass, King, Poe... & saites onívoros que devoram o HD do usuário, saites cortar-e-colar que postam fragmentos aleatórios colhidos no Google, saites que ao serem acessados adivinham e tocam sua música favorita, saites que capturam seus dados bancários e depositam um dólar só para mostrar onipotência & troco um CD de dupla caipira por uma caipirinha dupla & corro à frente do mastim de mandíbulas chamejantes como corre a tartaruga à frente de Aquiles & um balé de caranguejos na água fervente & um arlequim de alumínio com buzinas nos ouvidos, asas de inseto e molas nos sapatos, cantando “Honky Tonky Women” na porta de uma igreja evangélica desmoronada & Napoleão destroçando a Europa e aquela imensa família Bonaparte para sustentar & ser como um fóton, o mais veloz dos seres, que nem retarda nem acelera, imóvel no limite de si mesmo & vou reunir meus escritos em dois volumes em papel bíblia: “Obras Completas” e “Obras Incompletas” & é preciso ficar longe de vez em quando, pra se saber se tem saudade ou não & devagar com o andor, que o santo é de ouro maciço, mas quem carrega é de barro &

Nenhum comentário: