segunda-feira, 22 de março de 2010

1810) As melhores capas de 2008 (27.12.2008)



Joseph Sullivan, no blog “The Book Design Review”, dá um balanço nas melhores capas de livros de 2008. Sou desses caras compram de novo um livro que já têm, simplesmente porque a nova capa é uma obra de arte. O texto lá dentro não mudou uma vírgula, mas por abracadabra a qualidade visual da nova capa impregna o que está escrito, e lhe dá mais credibilidade. Um velho provérbio diz que “não se julga um livro pela sua capa”. Está errado. Pode-se não julgar um “texto” pela capa que lhe é aposta, mas a capa faz parte do “livro”, que é outra coisa.

Dito isto, vamos a um breve exame das belezas em pauta. (Sugiro ao leitor que dê um pulo em: http://bit.ly/K6ck). Três delas, sucessivas (U.S. vs Them, The Mayor’s Tongue e The Terror Dream), recorrem a um grafismo de cores básicas e papel recortado, com resultados bem diferentes. Violence de Slavoj Zizek (capa de Henry Sene Yee) mostra um papel branco amarfanhado com algo por trás, uma imagem inquietante e direta. O artista anônimo que fez a capa de Soon I Will Be Invincible teve a brilhante idéia de fotografar uma caixa de papelão cheia de gibis, sendo que o gibi da frente ostenta uma capa de super-herói com o título.

Duas capas usam a idéia de peso, carga insuportável: All the Sad Young Literary Men (um sujeito carregando um livro gigantesco às costas) e The Best Intentions, sobre a gestão de Kofi Annan à frente da ONU, em que o dirigente aparece minúsculo sob um título que reproduz o formato do edifício das Nações Unidas. Algumas capas abusam das cores e formas, como Bright Shiny Morning (com letras em néon) e Something to Tell You de Hanif Kureishi (imitando aqueles abecedários eróticos em que cada letra é feita de corpos entrelaçados). Maps and Legends de Michael Chabon, com capa de Jordan Crane (com um navio em águas revoltas ultrapassando paisagens oníricas) tem um intrincado design de três sobrecapas superpostas, que podem ser examinadas aqui: http://bit.ly/9GIOJj.

Uma idéia excelente é a que foi empregada na capa de A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica, um clássico de Walter Benjamin: a lombada de vários exemplares do próprio livro, lado a lado, verticalmente, como que numa estante. O livro multiplica-se a si mesmo, capa e lombada se confundem, comentando numa espécie de meta-linguagem a teoria de Benjamin sobre os novos conceitos de arte e cultura na época da produção industrial. Um clássico da ficção científica, Make Room! Make Room! de Harry Harrison (algo como “Mais espaço! Chega pra lá!”), tem por tema a superpopulação nas grandes metrópoles, e usa uma imagem perpendicular de Manhattan, de cima para baixo, em que os arranha-céus parecem expandir-se em todas as direções. Capas que parecem, também, expandir os respectivos livros em todas as direções.

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