segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

1687) O “New Weird” (8.8.2008)



O New Weird, movimento surgido nos anos mais recentes, principalmente em Londres, tem trazido uma interessante renovação para a ficção científica. “Weird” (“estranho, insólito, bizarro”) é um termo freqüente na literatura fantástica, principalmente através da revista Weird Tales, que revelou H. P. Lovecraft e outros autores. O New Weird reúne desde autores veteranos como M. John Harrison até autores que já estrearam neste século. O mais visível deles é China Miéville (nascido em Londres em 1972), com seus premiados e elogiados romances Perdido Street Station (2000), The Scar (2002) e Iron Council (2004). Uma antologia recente, The New Weird (Tachyon, 2008), organizada por Jeff e Ann Vandermeer, pode servir como uma boa porta de entrada para esse movimento.

A certa altura, a introdução de Jeff Vandermeer descreve o movimento como “uma súbita explosão de textos relacionados”. Esta é uma boa descrição de como a crítica percebe o surgimento de um novo movimento (ou uma nova “atitude”, no jargão atual). Os textos são relacionados porque muitas vezes esses autores convivem, conhecem-se, ou pelo menos têm conhecimento do que os outros escrevem no mercado meio invisível de fanzines, revistas, Internet, antologias, etc. Quando o movimento amadurece, muitos deles decolam simultaneamente em carreiras profissionais, e é aí que se dá, aos olhos do público e da crítica não-especializada, essa “súbita explosão”.

Vandermeer dá o crédito a um editor responsável por isto: Peter Lavery, da Pan Macmillan, que publicou livros de Miéville, K. J. Bishop, Hal Duncan e do próprio Vandermeer. Muitas vezes costuma-se creditar um movimento literário apenas aos autores, e esquece-se que em numerosos casos existe uma editora (empresa) e alguns editores (pessoas) que resolveram “comprar a briga” desses autores, investir neles, avalizar suas obras. O que seria de Julio Verne sem Hetzel? O que seria dos contistas de FC das décadas de 1940-40 sem Gernsback, Campbell, Gold? O que seria do “romance de 1930” sem José Olympio?

O New Weird mistura os três gêneros principais do Fantástico em língua inglesa: ficção científica, horror e fantasia. O nome adotado pelo movimento revela sua ligação com o espírito da revista Weird Tales. Sendo uma das mais antigas desse mercado, ele remete a um tempo em que ficção científica, horror e fantasia apareciam lado a lado em suas páginas, antes que o mercado se expandisse ao ponto de exigir revistas específicas para cada um. O mercado se segmentou, e com isso fraturou a literatura, que se enclausura em três conjuntos estanques, não-comunicantes: FC (espaçonaves, alienígenas, viagens no tempo), fantasia (castelos, dragões, magia) e horror (vampiros, monstros, criaturas malignas em geral). O New Weird é um refluxo na direção de um campo unificado, para que a capacidade de criar combinações inesperadas possa contrabalançar a força dos clichês coletivos e dos modelos obrigatórios.

Um comentário:

Brontops Baruq disse...

Ano retrasado (2008), o Fabio Fernandes lançou uma revista eletrônica com contos de FC brasileiros, o Terra Incognita. Acho que a coisa não deu certo, pois a coisa parou no quarto número.

Mas no primeiro número, há uma entrevista e um conto da russo-americana Ekaterina Sedia, chamado "O Estripador". Adorei pela forma que a história foi levada e pela bizarrice espiritual envolvido com máquinas. Um homem às voltas com um Estripador de Máquinas.

http://www.verbeat.org/terraincognita/



Abs