Na TV, um psicólogo analisava a mentalidade do sujeito tímido, e eu gosto de avaliar quem discorre sobre temas de minha especialidade. O entrevistado dizia (com outras palavras) que um tímido tem uma imaginação calamitosa. Se ele estiver numa festa ou num bar, e vir uma moça dando bola, com insistência, a cena que ele imagina não é a mesma de um cara normal. No momento em que ele se puser a caminho rumo à garota as luzes se apagarão, um holofote será aceso sobre ele, todo o ruído e todas as vozes cessarão, e o recinto inteiro vai acompanhar os seus passos. Naquele silêncio de se ouvir queda de alfinete ele chegará junto da moça, e na hora em que disser qualquer coisa (como: “Você vem sempre aqui?”) as luzes se acenderão e uma gargalhada ensurdecedora e incontrolável se ouvirá por todo o recinto, enquanto a garota aponta o dedo para ele e tem um ataque incontrolável de riso.
Tive vontade de cobrar direitos autorais, porque foi essa cena que passei a juventude imaginando. Foi ela, ou qualquer das variantes dela, que me manteve sentado e teso na mesa do clube, ou encurvado e bebericante no balcão da casa de shows. Nem sob a ameaça de metralhadoras eu correria o risco de passar por isso. Podem rir, amigos, mas embora essa cena nunca aconteça, acontecem cenas piores. Num desses balcões de bar eu já vi um hipopótamo desajeitado aproximando-se de uma moça e gaguejar: “Oi! Você também está gostando do show?” A moça deu uma gargalhada, voltou-se para a amiga mais próxima e disse: “Fulana, é comigo mesmo que essa coisa tá falando?”
Houve um tempo em que surgiram em Campina umas barraquinhas que vendiam mate gelado (com limão, com maçã, com leite). Tinha uma na calçada do Maringá, de costas para o Capitólio; outra na calçada do Correio; acho que mais outra na Cardoso Vieira antes de virar Calçadão. Eu achava o mate com limão uma beberagem dos deuses, principalmente no calor do meio-dia, quando acabava a aula no Alfredo Dantas. E ficava andando devagar, de barraca em barraca, criando coragem para tomar um. Segurava a nota de dois cruzeiros no bolso, para não perder tempo na hora em que criasse coragem, mas cada barraca que eu me aproximava tinha um problema. Numa, o sol batia mesmo de frente. Noutra, muita gente à espera. Na terceira, ninguém, e por isto mesmo aumentava minha timidez diante da mocinha que atendia – eram sempre umas moreninhas bonitas, de dezoito anos, que aos meus quinze pareciam balzaqueanas experientes e inacessíveis.
Um dos meus triunfos na vida é que em 90% dos casos eu acabava tomando o mate sem que a rua vaiasse. E houve uma vez em que, quando eu sorvia o néctar gelado, ela me olhou, perguntou meu nome. A pergunta era tão inesperada que respondi, bem normal. Terminei, paguei; ela me deu um sorriso brejeiro, de olhos baixos, e disse: “Volte sempre, Braulio...” Não sabe ela a importância que teve, porque, sob um certo ponto de vista, o fato é que nunca deixei de voltar.
Tive vontade de cobrar direitos autorais, porque foi essa cena que passei a juventude imaginando. Foi ela, ou qualquer das variantes dela, que me manteve sentado e teso na mesa do clube, ou encurvado e bebericante no balcão da casa de shows. Nem sob a ameaça de metralhadoras eu correria o risco de passar por isso. Podem rir, amigos, mas embora essa cena nunca aconteça, acontecem cenas piores. Num desses balcões de bar eu já vi um hipopótamo desajeitado aproximando-se de uma moça e gaguejar: “Oi! Você também está gostando do show?” A moça deu uma gargalhada, voltou-se para a amiga mais próxima e disse: “Fulana, é comigo mesmo que essa coisa tá falando?”
Houve um tempo em que surgiram em Campina umas barraquinhas que vendiam mate gelado (com limão, com maçã, com leite). Tinha uma na calçada do Maringá, de costas para o Capitólio; outra na calçada do Correio; acho que mais outra na Cardoso Vieira antes de virar Calçadão. Eu achava o mate com limão uma beberagem dos deuses, principalmente no calor do meio-dia, quando acabava a aula no Alfredo Dantas. E ficava andando devagar, de barraca em barraca, criando coragem para tomar um. Segurava a nota de dois cruzeiros no bolso, para não perder tempo na hora em que criasse coragem, mas cada barraca que eu me aproximava tinha um problema. Numa, o sol batia mesmo de frente. Noutra, muita gente à espera. Na terceira, ninguém, e por isto mesmo aumentava minha timidez diante da mocinha que atendia – eram sempre umas moreninhas bonitas, de dezoito anos, que aos meus quinze pareciam balzaqueanas experientes e inacessíveis.
Um dos meus triunfos na vida é que em 90% dos casos eu acabava tomando o mate sem que a rua vaiasse. E houve uma vez em que, quando eu sorvia o néctar gelado, ela me olhou, perguntou meu nome. A pergunta era tão inesperada que respondi, bem normal. Terminei, paguei; ela me deu um sorriso brejeiro, de olhos baixos, e disse: “Volte sempre, Braulio...” Não sabe ela a importância que teve, porque, sob um certo ponto de vista, o fato é que nunca deixei de voltar.
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