Já falei aqui sobre a importância que teve, na minha infância, o fato de estudar em turmas onde se misturavam alunos de 12 até 20 anos (ver “Meus Ateneus”, 11.12.2005). Essa promiscuidade etária foi sofrida, mas muito educativa. Do mesmo modo, defendo a teoria de que meninos e meninas deviam estudar misturados desde cedo. Separar turmas masculinas e femininas, na infância, só faz isolar esses dois mundos que por si mesmos já são tão diferentes.
Há um artigo de G. K. Chesterton a este respeito, “Two stubborn pieces of iron”, em que ele diz que a co-educação não acarreta o menor perigo de tornar meninos e meninas todos iguais. São diferentes demais, diz Chesterton, são como dois pedaços teimosos de ferro: se quisermos que eles se fundam num só é preciso aquecê-los ao máximo, porque “as diferenças entre um homem e uma mulher são na melhor das hipóteses tão obstinadas e exasperantes que praticamente não podem ser superadas, a não ser numa atmosfera de ternura exagerada e interesse mútuo”. O amor e o desejo sexual atuam, neste caso, como motivações tão intensas que ambos os lados consideram, pela primeira vez, que vale a pena abrir mão de suas verdes convicções e dar um pouco de atenção àquelas criaturas chatas que até então eram objeto de desdém e galhofa.
Criar-se a uma distância excessiva pode produzir lacunas irremediáveis na comunicação. Vejam a Grã-Bretanha, por exemplo. Lá os carros têm o volante do lado direito e rodam no lado esquerdo das ruas e estradas. É uma simples convenção, mas só acontece porque o país é uma ilha. Se não o fosse, a partir de uma certa altura viaturas e estradas estariam se misturando às do país vizinho, e uma das duas convenções teria que se sobrepor à outra. Vejam o caso das concepções geográficas da China: lá, o Norte fica para baixo, e o Sul para cima. Claro que isto não é certo nem errado, é mera convenção, mas fica difícil usar noutro país um atlas impresso na China, mesmo com texto em outra língua. São dois exemplos de por que homens e mulheres pensam diferente.
Homens e mulheres devem ter direitos iguais e deveres iguais perante a lei. As exceções devem atentar para peculiaridades biológicas como gravidez, amamentação, etc. No mais, tudo deveria ser, se não compartilhado, vivenciado à vista uns dos outros, como aliás ocorre na maioria dos nossos colégios. As diferenças culturais são excessivas, enormes. Se os separarmos com um muro, acabaremos tendo de um lado uma horda de Schwarzennegers motorizados, e do outro um desfile de sílfides consumistas. Chesterton (cuja opinião neste caso difere da minha) diz: “É melhor que os sexos se desentendam entre si até se casarem. Não deviam ter conhecimento a respeito um do outro antes de terem a reverência e a caridade”. E neste ponto está certo. Meninos e meninas desentendem-se até o instante em que se sentem atraídos. Somente essa atração pode tornar possível algum tipo de entendimento entre os dois.
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