terça-feira, 11 de agosto de 2009

1193) Treze dias que abalaram o mundo (9.1.2007)



A TV exibiu nos primeiros dias de 2007 o filme Treze dias que abalaram o mundo, um thriller político de Roger Donaldson sobre a crise dos mísseis de Cuba em 1962. Para os que nem eram nascidos na época, basta resumir que os soviéticos instalaram uma base de mísseis atômicos em Cuba, de onde poderiam bombardear os EUA. O presidente John Kennedy ordenou um bloqueio naval a Cuba, e a retirada dos mísseis. Foram dias de negociações tensas, porque muitos oficiais soviéticos e americanos queriam a guerra atômica. Por quê? Meu palpite é que militares passam a vida inteira sendo preparados para a guerra, assim como jogadores de futebol se preparam para jogos. Imagine a inquietude de uma Seleção Brasileira que sabe ser muito boa, muito bem preparada, passa anos e anos treinando... e ninguém deixa ela jogar! Kennedy não deixou os militares americanos jogarem. Fez algumas concessões, os soviéticos retiraram os mísseis, e ficou por isso mesmo.

Os méritos do filme são a narrativa tensa e rápida, o bom elenco, e a impressão de verossimilhança que nos dá, mesmo com o desconto de alguns erros factuais e de interpretação, apontados por alguns críticos. Vemos intermináveis reuniões regadas a café e cigarros, bate-bocas ferozes tanto entre adversários ideológicos quanto entre parceiros que se gostam e se admiram, discussões que rodam, rodam, e voltam à estaca zero. A iminência de uma guerra nuclear tira o sono de todos, e há algo de kafkeano nesse grupo de homens preparadíssimos e poderosos sendo forçados a caminhar, sem poder fazer nada, na direção de um conflito que certamente mataria metade da população do mundo.

A direita norte-americana fez o que pôde para que o conflito fosse resolvido na bala. Os Kennedys (John e Bobby) conseguiram uma saída honrosa. Um ano depois, John foi fuzilado em Dallas; cinco anos após, Bobby também foi morto a tiros. Lembro de uma coluna de Arnaldo Jabor no Pasquim, na década de 1970, em que ele dizia: "Com a morte de Kennedy, a direita americana descobriu que tinha super-poderes. Foi como Superman, garoto, descobrindo que podia erguer um caminhão com uma mão só". Estas palavras têm uma amargura profética quando vemos hoje essa direita instalada na Casa Branca, invadindo países, e afundando-se em atoleiros militares que ela própria criou. O fato do filme de Donaldson ser um hino de admiração aos Kennedys talvez relativize sua crítica (há uma divisão nítida demais entre mocinhos e bandidos), mas, se não serve como documento veraz, que sirva como alegoria.

O mais impressionante é como dois sujeitos como os Kennedys foram simplesmente assassinados em público e ficou tudo por isto mesmo, como em qualquer republiqueta sul-americana. Inventaram dois bodes expiatórios para puxar o gatilho, e pronto. Um país que trata assim dois líderes políticos democraticamente eleitos acaba produzindo crias como Saddam Hussein.

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