Nossas vitórias pouco convincentes nos primeiros jogos (1x0 na Croácia, 2x0 na Austrália) eram de se esperar, depois da badalação que cerca a Seleção desde o ano passado: “favoritismo”, “quadrado mágico”, etc. e tal. Nenhum grupo de jogadores, por mais profissionais e pés-no-chão que seja, fica imune a tanta adulação, tanto oba-oba. Paciência. Faz parte da nossa cultura contar com o ovo no cu da galinha, comemorar por antecipação vitórias ainda não obtidas, falar com intimidade de “canecos” e “estrelas” que estão sendo disputados com unhas e dentes por outros 31 times, dos quais uns cinco ou seis têm reais condições de derrotar o nosso (ou de serem derrotados por ele, porque isso quem decide é o momento do jogo).
Se esse time da Seleção Brasileira fosse um time de clube, que joga junto o ano inteiro, seria quase imbatível. Do modo como é arregimentado e treinado, depende de muitas variáveis. Uma delas é o estado emocional dos jogadores, que no campo têm que tomar decisões em frações de segundo, e às vezes estão com a cabeça tão cheia de expectativas, compromissos, conselhos, advertências, pedidos, etc., que perdem segundos preciosos tentando pensar na jogada certa. Nisso, o zagueiro adversário já se antecipou e levou a bola consigo.
Quando Ronaldo ou Parreira botam a culpa na imprensa, os coleguinhas jornalistas ficam ofendidos e cheios de não-me-toques. Calma, amigos. Não é a imprensa inteira. Mas eu vejo repórter de TV perguntando: “Ronaldinho, qual vai ser o pagode para comemorar o título?” Que título, amigo? “E aí, Adriano, vai dedicar o gol ao seu filho que nasceu?” E eu pergunto: que gol? O cara nem fez gol ainda, já estão pensando na comemoração? (Acabou fazendo na Austrália, mas minha objeção continua valendo). No dia em que Daiane dos Santos foi para a final de ginástica nas Olimpíadas de 2004, a TV anunciava: “E não perca hoje, às 14 horas, a transmissão da medalha de ouro de Daiane dos Santos!” Deu no que deu.
TV, rádio e jornal vivem de audiência. Em esporte, você só tem audiência se vender esperança. Já que nossos atletas são bons, não custa nada à imprensa criar esse clima de festa. Daí surge o excesso de cobertura, de informação irrelevante, de repórteres esbaforidos tentando tirar leite de pedras e descobrir notícias a todo custo. É a bolha no pé, é a perna depilada, é a dor de cabeça... O problema não são as críticas da imprensa, que qualquer profissional assimila ou ignora. O problema é que a imprensa gasta muito e investe pesado, numa Copa, e se vê forçada a dar uma atenção desmedida ao cotidiano do time, a noticiar qualquer bobagem (porque precisa noticiar coisas o dia inteiro), e a criar tempestades em copo dágua. Uma bolha no pé vira um problema de Estado, um gol no treino vira motivo para comemoração. Vamos torcer para que, mais uma vez, não derrotemos a nós mesmos, principalmente com essa empáfia antecipada dos que acham que ganharam o jogo antes da bola rolar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário