sábado, 2 de maio de 2009

1008) Ao trilar do apito (9.6.2006)


(ilustração: Paulo Jales)

Começa hoje a Copa do Mundo. A postos, povo brasileiro! Não sei qual é a pior situação, se é mandar para a Copa uma Seleção capenga, destinada a um mico histórico (como em 1966, 1974 e 1990) ou mandar uma Seleção jogando o fino, como a de agora, e correndo o risco de uma catástrofe como a de 1982. Paciência, colegas. O conselho mais sábio, em ambas as situações, é a dos velhos malandros que conhecem a imponderabilidade quântica do futebol, dão de ombros e recomendam: “Joga o jogo”.

Esta será a 18a. Copa do Mundo. Das dezessete anteriores, acompanhei doze, como torcedor (em algumas eu era muito pequeno, não era ainda portador do vírus). Ganhar as Copas de 1958-62 fez um bem enorme a este país, ajudou a diminuir o complexo (que ainda temos) de que sermos mulatos, tropicais e naturalmente alegres faz com que sejamos inferiores (economicamente, socialmente, intelectualmente) a outros povos que são brancos, vivem em países frios e encaram a vida com expressão carrancuda.

Muito brasileiro besta acha que para sermos civilizados e termos justiça social temos que nos parecer com os povos macambúzios que já governaram o mundo. É o contrário, coleguinhas. Todos os séculos de evolução deles foram impulsionados pela esperança utópica de poderem um dia libertar essa energia vital que trazem dentro de si, e que nós, bem ou mal, soubemos desenvolver. E não só: encontramos no futebol e na música popular dois canais de expressão para ela, que nos colocaram na vanguarda do Mundo.

Pois então, deixa a bola rolar. Não acho que nosso time tenha a obrigação de ser campeão; isto seria menosprezar demais os adversários. Além dos habituais suspeitos (Argentina, França, Inglaterra, Itália, Alemanha) tem umas seleções aí que jogam um bom futebol: Croácia, República Tcheca, Portugal, Espanha, a eternamente injustiçada Holanda... Um dia, uma dessas vai surpreender. É a síndrome do “terceiro lugar”, onde sempre chega uma seleção que ninguém esperava: Suécia em 94, Croácia em 98, Turquia em 2002.

Pensando bem, até o Japão de Zico pode surpreender. Esses times do Oriente quando começam a ganhar vêem-se possuídos por uma alucinação samurai que os empurra a praticar façanhas imprevisíveis. Pensando melhor ainda, times como Sérvia e Montenegro, Polônia ou Ucrânia podem surpreender também. Há décadas que produzem muitos talentos individuais, e um dia eles se combinarão para formar um time que ninguém esperava. Os times africanos são uma incógnita, porque ficaram de fora os mais conhecidos (Camarões, Nigéria) e os que chegam agora podem pagar um mico ou podem pagar pra ver. Dos nossos vizinhos acho que o México é disparado o mais perigoso, com Paraguai e Equador bem atrás. Mas... quer saber de uma coisa? Chega de prognósticos. Futebol não tem lógica. Se tivesse, nossa emoção se esgotaria na leitura da tabela do Campeonato. Relaxa, rapaziada. Espera o juiz fazer “pí”, rola a bola, e joga o jogo.

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