quinta-feira, 2 de abril de 2009

0939) E o futebol do Rio, hem? (21.3.2006)


O futebol do Rio de Janeiro é um paciente terminal, sofrendo de falência múltipla dos órgãos. Escrevo estas linhas na noite do domingo, 19 de março, depois que foi definido o quadrangular decisivo da Taça Rio (2o. turno do campeonato), e cujo vencedor irá decidir o título com o Botafogo, campeão da Taça Guanabara ou 1o. turno. Pasmem, amigos. A Taça Rio será decidida entre Americano de Campos, Cabofriense, Madureira e América. Ficaram de fora os quatro reis do baralho, ou seja, Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo. (Menos mal para o Botafogo, que foi campeão do 1o. turno e vai decidir o título com um time “pequeno”).

Os quatro grandes clubes do Rio vêm sendo sangrados até a morte por grupos de cartolas que parecem encarnar uma conspiração infernal para “quebrar” o futebol do Estado. Falei acima em “falência múltipla dos órgãos” porque é a imagem que melhor descreve a situação. É como um paciente que está como todos os órgãos vitais comprometidos, e, mesmo, quando a equipe médica consegue normalizar a situação deste ou daquele, todo o seu esforço vai por terra, porque o comprometimento dos demais logo faz o órgão remediado retornar ao estado crítico de antes.

Em primeiro lugar, são os cartolas desonestos, mal-intencionados, do tipo que celebra contratos e acordos mirabolantes, milionários, para embolsar no meio do caminho enormes fatias que nunca irão aparecer nas nebulosas prestações de contas de fim-de-ano. Quando os cartolas são honestos (e muitos o são), são incompetentes: apaixonados pelo clube, deixam-se arrastar pela loucura-de-torcedor e tomam decisões catastróficas, movidos pelo desespero de conseguir resultados a curtíssimo prazo (tipo trocar de técnico na quinta-feira para tentar ganhar a decisão do título no domingo). Quando são competentes e honestos, são sabotados por certos jornalistas que não são nem uma coisa nem outra, perdem-se nas politicagens de corredores de Federação e de tribunais esportivos, ou simplesmente naufragam nos buracos-negros contábeis deixados pelas administrações anteriores.

Acendam velas votivas, amigos. Batam bombo, prometam novenas, queimem incenso, promovam rituais propiciatórios no altar de qualquer divindade, babilônica ou egípcia. Peguem-se com os deuses, com os numes tutelares, com os orixás, com os hexagramas do I-Ching, com qualquer força sobrenatural que impeça a propagação, pelo Brasil inteiro, deste vírus maligno que assola o futebol carioca. Acabaram (pelo menos por enquanto) com uma das maiores fontes de Arte que este país já teve: o futebol que nos deu Garrincha, Didi, Gérson, Zico, Roberto Dinamite, Romário e tantos outros. O Rio já foi, para o mundo do futebol, como a Grécia Antiga foi para o Teatro, a Filosofia e a Escultura. Os peladeiros que hoje entram em campo e recebem as vaias e tomates são os menos culpados. Os culpados são os caras que afundaram quatro Titanics de uma vez só.

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