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... e torno ao labirinto de onde escapo
sabendo que não há lado de fora:
labirinto do Hoje, o Aqui, o Agora...
Du bist so schön, ó glorioso instante!
Meu desejo é que o tempo desencante
a si mesmo, e distenda seu elástico
transformando um só dia num fantástico
sempre-agora – incessante, inacabável...
É pecado sonhar? É condenável
brincar de crer no que não pode ser?
Falar do Tempo é luta e é prazer,
bastidores e palco, treino e jogo.
Alguns dizem que o Tempo é como o fogo;
tanto destrói quanto ilumina e aquece.
Outros dizem que o Tempo se parece
a um Olho que rói tudo que observa:
a carne, o chão, a água, o bicho, a erva,
a beleza, a verdade e a memória...
Corrosiva visão que cria a História:
soma do que esquecemos e lembramos.
Por piores Natais nós já passamos!
Vamos então sorrir no que há sorrisos,
fantasiar trenós, renas e guizos
como fantasiamos hobbits e ETs...
Nada melhor do que “Era uma vez...”
pra reduzir o peso do real.
O peso do existir, ser material,
ter doenças, incômodos e achaques,
ficar sujeito à dor, aos piripaques,
às síndromes de nomes estrangeiros...
São duzentos milhões de brasileiros
cada qual com seus corpos e seus traumas,
todos sonhando que possuem almas
e que todas vão ter segundas-chances...
Pobre de mim, que li tantos romances
e aprendi a descrer da crença alheia...
O mundo é sem Aranhas. É só Teia,
mero desenho e possibilidade;
não existe arquiteto ou divindade,
existe o espaçotempo – e a matéria.
Sendo assim, o Natal é coisa séria;
futebol, carnaval, apendicite,
Grammy e Oscar, Nobel e dinamite,
todas as ilusões desta existência!
Tudo é sério: o humor e a ciência,
o ser e o nada, o cu e a cueca,
o deus de Roma e o alá de Meca,
a reza, a rosa, a prosa e a poesia,
a honestidade e a patifaria,
o fato, o fóton, a foto, o selfie, o fake...
Todo palácio vale um milk-shake!
Um mendigo equivale a um senador!
Um vampiro de filme de terror
não é menos real que o cineasta.
O Real é tufão que tudo arrasta,
ventania que varre o mapa-múndi,
poeira que nos cega e nos confunde,
o tempo, o vento que nada perdoa...
Tudo é real onde existir pessoa,
esse espelho-do-ser chamado gente.
E o Natal acontece novamente!
E Boas Festas a quem merecê-las.
“Alforje ao ombro, recolhendo estrelas”,
eu retorno, à maneira de Seu Nilo,
e de astro em astro vou enchendo um silo,
e com esperança aguardo o ano seguinte,
e brindo com meu vinho sub-20
à saúde de todos, todas, “todes”...
Irão me achar no camarim dos “roadies”
onde a conversa é mais interessante.
Errar é humano? Eu sou judeu errante,
andarilho da idéia. I am the walrus.
Minha estrada é moebius-ouroboros,
o meu chão é de vácuo e é de vento,
um mar de mármores em movimento,
vagalhão congelado que goteja...
Pois venha o tempo, e o que vier, que seja!
Isto aqui não é sangue, é vinho tinto.
Chego à saída deste labirinto,
empurro a porta onde se lê: da capo...
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