quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

3729) Máquinas pensantes (5.2.2015)



A revista eletrônica Edge formula todos os anos uma pergunta sobre temas cruciais ligados à ciência, e a distribui a centenas de cientistas.  A pergunta para 2015 foi: “O que você pensa a respeito de máquinas capazes de pensar?”.  Houve 183 respostas (está tudo no saite, aqui: http://tinyurl.com/m4ww7t8) e comentarei algumas.

Gostei da resposta de Haim Harari (físico, ex-presidente do Weizmann Institute of Science, em Israel).  Ele vai direto ao ponto, dizendo que as pessoas em geral têm medo de máquinas capazes de pensar como um ser humano, mas o que ele próprio teme são os seres humanos que pensam igualzinho a uma máquina.  O hábito de raciocinar acompanhando o raciocínio das máquinas está embotando o que o ser humano tem de mais precioso: “Exercer o bom senso na tomada de decisões, e ser capaz de levantar questões significativas são, até agora, prerrogativas dos humanos. Misturar a intuição, a emoção, a empatia, a experiência e o background cultural; usar tudo isto para formular perguntas relevantes, e tirar conclusões através da combinação de fatos e princípios não-relacionados. Isso é a marca registrada do pensamento humano, algo que as máquinas ainda não compartilham”.

Harari critica o pensamento bitolado, preso a regras, incapaz de dar um salto para fora da “letra da lei” ou dos manuais de procedimentos.  Diz ele: “Todo novo edifício deve dar acesso a pessoas com necessidades especiais; prédios antigos podem ir funcionando sem esse acesso, até serem remodelados.  Mas será que faz sentido vetar a remodelação de um velho banheiro, para que ele ofereça este acesso, apenas porque não pode ser instalado um novo elevador?  Ou exigir a revelação pública de todos os segredos da CIA ou do FBI para que um júri possa condenar um terrorista que evidentemente matou centenas de pessoas?  Ou exigir consentimento dos pais antes de dar uma aspirina a um adolescente, na escola?  E quando os textos escolares são convertidos de milhas para quilômetros, a frase ‘Do alto da montanha dá para se ver num raio de aproximadamente cem milhas’ deve ser traduzida para ‘Do alto da montanha dá para se ver num raio de aproximadamente 160.943 quilômetros?’”

Tenho comentado aqui há anos sobre o impressionante bitolamento que o medo do terror impõe às pessoas nos EUA.  Professores, bibliotecários, policiais, temem não somente uma tragédia mas temem tomar decisões erradas e apegam-se de um modo cego às instruções que receberam, numa obediência cega que é uma forma de passar a responsabilidade “pro andar de cima”.  Se começarmos a pensar assim, não precisamos temer robôs inteligentes.  Os humanos burros nos destruirão.


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