As flips, flibos, flipoços, fliportos e tantas outras festas
literárias e bienais têm alvoroçado muita gente. A imprensa achou a expressão “fenômeno midiático”. No movimento
browniano em que se entrechocam as opiniões e os gostos, há duas aglomerações
opostas.
Há os que se entusiasmam com essa interatividade, porque seu
temperamento os conduz para isto e o processo todo os favorece. E há os que têm repulsa a um processo assim,
em parte porque não foram talhados para ele, e em parte porque acham que ele
favorece quem escreve mal.
O escritor deve somente escrever, arder o cérebro pela
madrugada, como uma vela no altar da Musa? Ou pode também se entregar à política literária,
à vida social, organizar-se em “escolas” e “movimentos”, inventar um “ismo”,
colaborar na imprensa, meter-se em polêmicas, meter-se na política, cortejar a
fama?
É a antiga oposição entre Gustave Flaubert e Émile Zola, dois escritores
de peso, amigos, que podem até ilustrar os polos opostos dessa discussão. Flaubert era o sacerdote, Zola era o
publicitário. Machado... e Alencar. Graciliano... e Jorge Amado.
Henry James tem um conto fantástico, “The Private Life”
(1892) que conta (entre outras coisas bizarras, machadianas) sobre um escritor
famoso, encontrado pelo narrador numa colônia de férias na montanha, e que não
faz outra coisa senão conversar e entreter os admiradores, fãs, tietes em
geral. O narrador sobe até a suíte onde
esse autor está hospedado e descobre que ele tem um duplo, um outro corpo igual
ao original, que fica se esfalfando na escrivaninha, produzindo os textos que
fazem a fama do primeiro.
Eu entendo perfeitamente que alguém que não goste de falar
em público ou de viajar (eu gosto). Por
outro lado, não sei se eu teria disposição para autografar 500 livros ao longo
de umas três horas, como já vi pessoas fazendo. Cada um pode ter recursos ou
disponibilidades diferentes para se
aproximar do público, mas isso não importa. Ser autor é escrever e
publicar. E nenhuma propaganda de livro
é melhor do que a de boca em boca.
Um comentário:
No ensaio "os escritores e o mundo", Gore Vidal escreveu ensaio magnífico sobre a participação de escritores nos programas de tv dos EUA nos anos 80.
Vale a pena.
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