Li numa matéria sobre Santos Dumont que o seu quarto balão,
chamado (numa contagem descontraidamente brasileira) “no 3” se
destacou pelo fato de ter sido o primeiro que se elevou com gás de iluminação,
e o primeiro para o qual foi construído um hangar. O gás de iluminação substituía o hidrogênio,
que até então era o gás mais utilizado para inflar os balões da época. O vôo foi realizado no dia 13 de novembro de
1899 – o dia exato em que, segundo os videntes do "fim do século", o
mundo iria se acabar.
Não sei por que motivo nostradâmico se previa o fim do mundo
para esta data, e não para 31 de dezembro, o que pelo menos teria alguma lógica
cronológica. Vai ver que assim como 13 é 31 ao contrário, novembro é dezembro
ao contrário – para essa turma pêndulo-de-foucault, qualquer coisa pode ser
demonstrada verbalmente.
Santos Dumont, ao que parece, não tinha problemas com o
número 13, pois além de desafiar o Apocalipse anunciado, construiu e pilotou um
balão com este número, mesmo vindo de duas tentativas abortadas com os números
11 e 12. O no 13, ao que
parece, sofreu algum tipo de sabotagem, mas logo em seguida veio o 14 e seu upgrade
14-Bis, e o resto é história.
Não imagino que Santos Dumont fosse imune a superstições. Ao
que parece foi por superstição que ele pulou o número 8, e na prática isso
equivale a recear o 13, o 7 ou qualquer outro.
Mas, como temos o hábito mental de tirar lições de fatos aleatórios,
aproveitemos para lembrar a reação de Santos Dumont, que foi provavelmente a de
dizer: "Não, não tenho medo de que o mundo vá acabar hoje. Para falar a verdade, acabei de construir um
troço complicadíssimo que nem eu mesmo tenho certeza se vai voar ou não, e não
tenho tempo de pensar em fim do mundo."
O mundo não acabou: o balão de Santos Dumont foi quem acabou
voando. Podemos aproveitar a outra
informação (foi para este balão que ele construiu o primeiro hangar) como uma
prova de seu otimismo, de sua certeza de que não apenas o mundo não ia acabar,
mas talvez chovesse daí a alguns dias, e era preciso guardar o balão num lugar
coberto. Era um sujeito cheio de manias,
e quase todas eram de ordem prática.
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