A primeira Corrida do Ouro na Califórnia foi em meados do século 19, quando a descoberta de jazidas de ouro à flor do solo fez milhares de pessoas pegarem seus carroções e partirem para o Oeste; foi a Serra Pelada deles. A nova corrida do ouro não é feita de ouro e sim de silício. O Vale do Silício é o novo lugar onde rapazes ambiciosos podem ficar ricos do dia para a noite. O único problema é que, como diz a Bíblia, “são muitos os chamados e poucos os escolhidos”. Uma ótima matéria de Gideon Lewis-Kraus na revista Wired de maio (http://tinyurl.com/lvlfn8b) acompanha a saga da Boomtrain, uma empresazinha de dois rapazes que lutam para levantar um milhão de dólares e colocar no mercado um novo sistema de busca e seleção de vídeos.
Cinquenta e uma novas empresas de informática são criadas
todo mês na região de San Francisco. Muitas querem ser o novo Google, o novo
Facebook. Outras querem apenas crescer o bastante, atrair a atenção das grandes,
e ser adquiridas. Isso gera o dilema nos seus criadores: ficar lutando mais 10
anos pensando em valer um bilhão de dólares, ou vender pela primeira oferta de
100 milhões que aparecer? Vi muito tempo
atrás um documentário sobre “os fracassados do vale de Silício”. Eram os caras
que tinham percentagem numa empresa mixuruca e quando a empresa começou a
crescer venderam essa percentagem por um bilhão de dólares. O problema é que a
empresa era o Yahoo, o Google, a Microsoft, sei lá o quê. Um dos entrevistados,
um cara de seus 40 anos, com a linda esposa no jardim deslumbrante de uma
fantástica mansão, dizia: “Eu levo uma vida de príncipe, mas sempre que
encontro um amigo ele me diz: Que pena que você jogou seu futuro pelo ralo,
você podia ter hoje dez vezes mais.” E ele conclui: “Eu não preciso de dez
vezes mais, mas não sei se digo isso só para me consolar.”
O capitalismo é alimentado fisicamente por tecnologia e
dinheiro, mas ele é alimentado mentalmente pelo delírio quantitativo, a
vertigem do número. Se você tem 100, você pode com esses 100 ganhar 200. Já que
tem 200, por que não lutar para ter 400, uma coisa tão fácil? E chegando aos 400, nada nos impede de chegar
aos 800. É uma coisa parecida com encher um balão de soprar. Vai sempre haver
um ponto em que a bolha pipoca e tudo vai pelos ares, mas enquanto a ilusão se
mantém, você diz (como o viciado em droga): “Só mais este, e depois eu
paro.” Não para, ou melhor, é a bolha
quem para, e aí você fica sem nada.
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