No capítulo 21 do romance O Longo Adeus, Raymond Chandler interrompe a história que vinha contando para mostrar um pouco do cotidiano do detetive Philip Marlowe. Até aquele momento, Marlowe está encrencado até o pescoço por causa de um crime aparentemente cometido por um amigo seu, Terry Lennox, que ele ajudou a fugir para o México quando a polícia o perseguiu pelo assassinato. Lennox era genro de um magnata californiano, e Marlowe, por lealdade ao amigo, e por não responder as perguntas da polícia, acaba passando alguns dias na cadeia.
De repente, a história se interrompe. E no cap. 21 Marlowe
atende três clientes muito diferentes. O primeiro é um sujeito rude que cria um
cachorro em casa e vem se queixar de que a vizinha está jogando almôndegas
envenenadas no quintal para matar seu cachorro, que late toda vez que um carro
passa na rua. O cliente quer que Marlowe passe o dia e a noite escondido no
quintal até flagrar a vizinha em mais uma tentativa de envenenamento. Marlowe
lhe diz que isso não é papel para um detetive.
O segundo cliente é uma mulher humilde, que mora numa
pensão, e desconfia que sua companheira de quarto está furtando dinheiro de sua
bolsa. “Mas o que a sra. quer que eu faça?”, pergunta Marlowe. E ela: “Telefone
para ela e lhe dê um susto! Diga que é
detetive e que está de olho nela!”. Marlowe, com alguma dificuldade, se livra
da mulher.
O terceiro cliente é um homem meticuloso, polido, reprimido,
cuja mulher pela quinta vez limpou sua conta bancária e fugiu com outro cara
para Honolulu. Ele oferece 200 dólares para que Marlowe a localize e traga de
volta, e insiste: “Diga a ela que eu não ligo, só quero que ela volte”. Marlowe
aciona uma agência de detetives em Honolulu, explica o caso, a mulher vem de
volta e ele transfere o dinheiro para a agência que fez o trabalho, cobrando
uma pequena taxa para si próprio, mais despesas (telegramas, etc.).
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