terça-feira, 12 de novembro de 2013

3341) Nossas editoras (12.11.2013)




Todo autor tem problema com editoras, mas esses problemas são de natureza variadíssima, tipo “cada caso é um caso”, e não se resumem ao cansadíssimo clichê do editor gordo, de cartola, fumando charuto e surrupiando os direitos autorais do autor que escreve à luz de velas num sótão gotejante. Não é assim. Os problemas são muito outros.

Contarei dois problemas que tive com a Editora Rocco, à qual aliás sou muito grato por ter publicado três livros meus: A Máquina Voadora (1994), A Espinha Dorsal da Memória / Mundo Fantasmo (1996) e O Anjo Exterminador (2002).  Quando penso nessa editora, mais do que numa empresa penso no papo amigo e inteligente de Vivian Wyler, Ana Duarte, Bebeth Lissovsky, e do falecido e admirável José Laurênio de Melo.

Mas vejam como o mecanismo de uma editora grande pode se tornar uma coisa desajeitada, paquidérmica, kafkeana.

Anos atrás eu precisei de exemplares da Espinha... É praxe contratual que o autor possa adquirir seus próprios livros com um desconto no preço de capa. Digamos que eu precisasse pagar apenas 40% disso; num livro com preço de capa de 40 reais, eu pagaria apenas 16 reais por cada um. Liguei para o depto. comercial da editora, encomendei uns dez ou vinte exemplares, paguei os 16 (ou equivalente). Dias depois, achei numa Siciliano o mesmo livro, com preço de capa de 9,90. Por que o Depto. Comercial não me disse que estava liquidando o livro? Como autor, tenho o direito de saber. Se a Siciliano estava vendendo a R$ 9,90 deve ter comprado por um décimo disto. Mas a editora não me disse nada. Só para que eu pagasse os 16,00 reais por exemplar, bancando o otário? Não é possível.

Esta semana, recebi a prestação de contas de O Anjo Exterminador, meu livro sobre Luís Buñuel, e vi que os 450 últimos exemplares do livro foram vendidos a alguém por R$ 1,75 (um real e 75 centavos) cada um. Mais uma vez a editora foi burra. Se tivessem me ligado e pedido uma oferta, eu sou tão ingênuo que teria pago talvez 5 reais por cada livro, pensando em vender por dez.

O modelo de ação das grandes editoras, no entanto, dificulta o diálogo direto, as pequenas atenções e gentilezas. Não dá para lembrar de negociar cada detalhe com cada autor, são centenas de autores, às vezes mais de mil. Quando é preciso abrir espaço no armazém, é contraproducente ficar ligando para cada uma daquelas pessoas: “Você se interessa por essas sobras-de-estoque?...” É este o termo técnico para aquele livro sobre o qual você suou e se desesperou em vão durante um ano. É tudo muito rápido, muito atropelado, muito mal feito, muito mal resolvido, muito mal educado.


3 comentários:

George dos Santos Pacheco disse...

Bráulio, nosso mercado de livros é somente comércio para as editoras e livrarias. Até porque não se chamaria mercado, se não fosse isso. Literatura é literatura para os escritores e para os leitores, para eles, é apenas comércio. Livro é um produto, e se está ocupando espaço indesejadamente, pouco importa o quanto você ralou para criá-lo. Pouco importa você e os leitores. Pouco importamos nós. Excelente artigo, amigo!

Fábio disse...

Pros editores pouco importa a sua ralação. O que eles querem é lucro, só isso.

Jean disse...

Bráulio, te vi na feira do livro de Porto Alegre. Muito legal sua palestra.