“Ghost Watchers” é um clube criado em 1998 por um grupo de
entusiastas do espíritismo. Não pertencem à religião espírita; são indivíduos
que tratam a mediunidade, a vida após a morte e a comunicação com os espíritos
de maneira científica, pragmática.
Investem nas faculdades mediúnicas (que têm
de nascença) com o auxílio de drogas legais, disciplinas, exercícios de atenção
e de concentração.
Ficam sensíveis à presença do ectoplasma, de cujas
manifestações, dizem, o mundo está cheio, mas são tão irreais para nós quanto
um arco-íris para um cego.
Existem reservas de espíritos em determinadas regiões, assim
como reservas de pássaros em certas áreas no campo. Na noite em que entrevistei
membros do grupo, eles estavam concentrados, passeando como se fossem turistas,
no quadrilátero de quatro esquinas: o vetusto hotel, a praça confortável, o
cinema outrora imenso, e uma fila de restaurantes lado a lado.
Fizemos uma visita guiada. Meu favorito foi um menino com a camisa de um time de futebol (que
nenhum de nós sabia qual era), fazendo proezas na faixa de pedestres enquanto
os carros o trespassavam como a um holograma. Numa alameda lateral da praça
vimos desfilar um casal, a mulher com um bebê vistoso ao colo, o homem com
chapéu panamá e bengala de castão. Também registramos a presença de uma moça
com a blusa aberta, o cabelo preso, rindo e falando num orelhão invisível, ou
que talvez não existisse mais ali.
A ruela lateral do teatro é uma mina, porque para ali
convergem, mecanizados pelo hábito ou atraídos pela concha repleta de calor
humano, todos os vagabundos invisíveis que não entendem direito o que está se
passando.
Vi um exemplar de flashers, aqueles espectros que surgem de repente,
tornam real uma cena incrivelmente vívida, e somem logo sem deixar rastros,
consumida toda a energia que tinham.
Vi um Ecto-penitente, que se gruda ao
braço dos passantes e o acompanha desfiando seu rosário de penas, cuja
depressividade a vítima acaba assimilando sem ter noção do que lhe acontece.
Explicaram-me que, ao contrário da crença popular, os fantasmas
ficam revivendo seus momentos felizes, não vêm pedir nada, prantear nada. Vem
visitar este mundo porque é aqui que deixaram gravadas suas lembranças. “É
como se o mundo,” disse-me ele, “fosse o suporte onde estão aprisionadas as
lembranças deles, e eles ficassem girando nelas, e assim se tornam eternos”.
Um comentário:
great, como vários outros contos aqui, mas pela data, hehehe, great... fiquei imaginando uma longa trama, ou um grande livro advindo desse pequeno vislumbre, vindo desse pequeno espaço diário seu, que você utiliza pra, como borges ou calvino, meus preferidos, nos brindar com excelentes vislumbres de ótimas histórias possíveis, que prosseguem em nossas cabeças...
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