Frank se considerou o sujeito mais azarado do mundo quando
sua esposa o largou. Felizmente (pensou ele) tenho meu laboratório de Topologia
Quântico-Temporal. As descobertas que
fiz nos últimos seis meses, e que estão sendo codificadas por meus assistentes,
estão com resultados muito melhores do que os que eu previa, e o relatório está
gerando uns três artigos que irão desencadear um novo “Ano Miraculoso” na
ciência.
Serões e mais serões se sucediam, e ocorreu que num daqueles
intervalos de descontração, que às vezes duravam duas ou três horas, Frank
viu-se preenchendo cadastro num saite de relacionamentos. E considerou-se o
sujeito mais sortudo do mundo quando, poucos dias depois de se pavonear nos
chats, fóruns e assemelhados, descobriu que tinha uma alma gêmea. Uma modelo,
muito conhecida e fotografada, mas sofrendo de solidão crônica, tédio e repulsa
pelo meio dos paparazzi e do show-business. Queria jogar tudo pra cima, casar,
ter uma casa bem tradicional e alegre, ter filhos... “Eu nasci de quina pra
lua”, disse, numa frase-feita equivalente, o pobre Frank. “Com 68 anos, gordo,
baixinho, vivendo de salário de universidade pública... e uma mulher dessa quer
casar comigo”. A essa altura, Frank já conferira que a modelo existia mesmo, e
uma rápida intimação ao Google lhe produziu fotos bastante animadoras.
Depois alguns meses de correspondência cada vez mais íntima,
ele passou a insistir para que ela o visitasse em Oklahoma, e ela dizendo
sempre que estava na ponta aérea entre Paris, Londres, Milão, Zurique e
Istambul. Ele terminou de redigir o terceiro “paper” enquanto revisava o
segundo e abria a revista que acabava de publicar o primeiro. Logo voltou a se
achar o sujeito mais azarado do mundo, porque a prometida turnê dela pela Costa
Oeste tinha sido cancelada. Teria sido o encontro dos dois face a face,
certamente um jantar juntos, quem sabe mais o quê! Ela disse que ia fotografar
uma campanha na Bolívia. Se ele quisesse...
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