sexta-feira, 22 de junho de 2012

2903) Zédantas (22.6.2012)




Estou lendo Zédantas segundo a letra I, publicado pelo Memorial Luiz Gonzaga (Recife, 2010), com a longa entrevista da D. Iolanda Dantas, viúva do grande parceiro do Rei do Baião. 

Zédantas (ele gostava que seu nome fosse escrito assim) é autor de dezenas de canções eternas da música nordestina, como “A Volta da Asa Branca”, “Sabiá”, “Vem Morena”, “Forró de Mané Vito”, “Imbalança”, “Xote das Meninas”, “Acauã”, “Noites Brasileiras”,”Siri jogando bola”, “Derramaro o gai”, “ABC do Sertão”, “Samarica parteira”, “Riacho do Navio”... bem, são dezenas. 

Era sertanejo de Carnaíba (PE), e o Riacho do Navio cortava a fazenda de seu pai. Estudou medicina e clinicou no Rio de Janeiro, mas nunca deixou de pensar no sertão o tempo inteiro. Era extrovertido, contador de piadas, imitador de tipos, além de elegante e vaidoso – tinha mais de cem gravatinhas-borboleta. 

No Rio, foi muito amigo de Péricles (criador do “Amigo da Onça”), e de políticos como José Aparecido e José Joffily (que lhe deu de presente um violão).  Era considerado “a alma da festa” onde chegava, com suas piadas e suas músicas.

Quando viajava a Pernambuco, levava um gravador de rolo de 14 kg e trazia de volta para o Rio dezenas de fitas com cantorias, aboios, toadas e forrós, que usava como base para suas composições em seu apartamento na Av. Pasteur, onde acordava cedinho e ficava compondo, olhando a Baía da Guanabara. 

Tocava bem o violão, e o piano com dois dedos, mas tocava de ouvido e a esposa, que tinha estudado, passava as melodias para a partitura, para que ele não as esquecesse. 

O sucesso do baião o colocou em contato com políticos influentes; “Algodão”, p. ex., foi composta  por sugestão do então Ministro da Agricultura, João Cleofas (PE). Uma canção gravada por Marlene, “Piririm”, marca sua única parceria com o outro grande parceiro de Gonzaga, Humberto Teixeira. “Vozes da Seca” foi feito em resposta à campanha popular “Ajuda teu irmão”, para as vítimas da seca de 1953 no Nordeste.

Era médico obstetra, e por causa de dores nas costas tomou muitos remédios à base de cortisona (um medicamento novo na época), que prejudicaram sua saúde. 

Sofreu um ferimento no tendão de Aquiles em 1961, quando passava uns dias no sítio de Luiz Gonzaga em Miguel Pereira (RJ). Fez uma cirurgia que não resolveu o problema, e morreu um ano depois de insuficiência renal, no Hospital dos Servidores do Rio, no mesmo quarto onde tinha morrido José Lins do Rego. 

Foi enterrado no Recife, e seu último pedido foi ser sepultado “com uma cruz de madeira num pé de mororó e um bode lambendo a cruz”. Compositor de imenso talento, e sertanejo até o talo.






Um comentário:

Josenilto Lacerda Vasconcelos disse...

Talentos obstinados que mantêm essa liga cultural nordestina!