sexta-feira, 19 de agosto de 2011

2638) Os ricos são diferentes (18.8.2011)



A pesquisa foi publicada na revista Current Directions in Psychological Science, por Dacher Keltner e colaboradores. O objetivo era examinar pessoas de diferentes classes sociais na tomada de decisões baseadas em empatia, compaixão, altruísmo, solidariedade social, etc. A conclusão foi que os ricos têm uma experiência de vida que os induz a ter menos empatia, menos altruísmo, e a serem em geral mais preocupados consigo mesmos. Já os pobres mostram um comportamento mais impregnado de união social e compaixão. Eles interpretam melhor os sentimentos alheios, têm mais empatia e estão mais dispostos a dar algo a quem precisa.

Nos vídeos gravados pelos pesquisadores, as pessoas mais ricas geralmente mantêm uma atitude distraída, checando o tempo inteiro seus celulares, rabiscando num papel, evitando contato visual com o interlocutor, enquanto que as pessoas de menor poder aquisitivo encaram as outras de frente e fazem sinais mais frequentes com a cabeça indicando que estão entendendo o que lhes é dito.

Os pesquisadores consideram que a atual guerra política nos EUA, envolvendo impostos, teto de endividamento e as práticas atuais do mercado de capitais têm sua origem na “ideologia do interesse próprio” das classes mais ricas. Os ricos acham que o sucesso econômico, político e pessoal se deve a comportamentos individuais e a uma boa ética de trabalho. Pelo fato de não reconhecerem a importância de conexões familiares, dinheiro e melhor educação, eles tendem a desdenhar a ajuda do governo em seu sucesso e opõem-se vigorosamente a financiar esse governo com impostos. Para Mark Wilhelm, economista da Indiana University, a maioria das pessoas é capaz de responder com rapidez quanto pagou de impostos no ano passado, mas poucos seriam capazes de calcular o quanto se beneficiaram do governo – dirigindo em estradas federais, tomando remédios produzidos através de pesquisas financiadas pelo governo, ou usando invenções de pessoas que foram educadas em escolas públicas.

Os ricos tendem ao isolamento, consideram que todo seu sucesso se deve a si próprios, e que não faz sentido dividi-lo com mais alguém. Os ricos não são propriamente egoístas, são voluntariamente desatentos, e desse modo incapazes de fazer a ligação cognitiva entre necessidades e recursos. Enquanto isto, a distância entre os mais ricos e o resto da população continua a aumentar nos EUA, onde 80% da riqueza do país é controlada por cerca de 20% de sua população.

Os ricos são cruéis? Talvez nem tanto. Como qualquer um de nós que se julga em boa situação, eles acham que merecem tudo que têm, e talvez merecessem até um pouco mais. Seu índice de normalidade é o seu próprio nível de vida. Muitos deles até se dispõem a dar 1 milhão a uma instituição de caridade, desde que essa decisão seja sua, mas chiam e esperneiam se o governo os obrigar a doar mil dólares para gente por quem eles não se interessam nem um pouco.


Nenhum comentário: