segunda-feira, 5 de julho de 2010

2231) O Ético e o Antiético (2.5.2010)


(As melhores coisas do mundo)
 
Algumas cenas do ótimo filme de Laís Bodanzky As melhores coisas do mundo (em cartaz na Capital) me deixaram com um pulga atrás da orelha. São cenas que se referem às atitudes éticas (ou antiéticas) de diferentes personagens, e são cenas cruciais, neste filme que discute, num roteiro cheio de variadas situações, as decisões éticas que os adolescentes vivem sendo forçados a fazer. 

Por exemplo – sacanear ou não sacanear um colega, só de gréia, só pra zoar? Denunciar ou não denunciar um colega que fez algo aparentemente errado? Espionar ou não espionar a vida de alguém que parece estar com problemas? E assim por diante. 

Há uma cena em que uma personagem revela um segredo pessoal, muito íntimo, para outra; e dias depois descobre que o Colégio inteiro ficou sabendo daquilo, o que está gerando problemas enormes para algumas pessoas. Diante das inevitáveis cobranças (“Mas como é que você comenta uma coisa dessa com Fulana, um segredo?”) a personagem desabafa: “Eu jamais imaginei que ela fosse espalhar isso pelo Colégio inteiro. Não é ético!”. 

Um problema frequente nas pessoas que procuram (sinceramente, honestamente, não da-boca-pra-fora) ter um comportamento “pautado pela ética” é que isso se torna tão obsessivo que elas acabam se esquecendo de algo muito simples: que as outras pessoas não são assim. Que muitas pessoas não estão nem aí para o que é ou não é ético, e que, como nesse exemplo acima, a maioria das pessoas é capaz de jogar seus escrúpulos éticos pela janela, em troca de uma fofoca “quente”, da revelação de um segredo desses de fazer arregalar os olhos de quem escuta. 

Em outro momento do filme, uma professora elogia um aluno cuja tese está orientando e alguém sugere, em tom brincalhão, que ela está tendo um caso com o aluno. Ela reage indignada: “Uma orientadora não pode ter um caso com o aluno! Não seria ético!”. Mas o filme dá o exemplo de outro personagem, um professor que acaba tendo um caso (e um caso homossexual) com um aluno a quem serve de orientador. E nada no filme nos leva a crer que esse caso é condenável. Pelo contrário: aceitamos, porque entendemos que foi uma paixão recíproca e sincera entre duas pessoas, e que os papéis de orientador e aluno, nesse caso, recuaram para segundo plano. 

O difícil em ser ético é que não existe uma fórmula pronta, aplicável de modo uniforme a todas as situações. Em ética, como em tantas coisas que envolvem julgamento de situações humanas complexas, cada caso é um caso. Isto não significa que não há valores éticos universais, mas que esses valores, que existem e devem servir sempre de crivo para o comportamento humano, existem justamente para serem aplicados a cada caso, existem para serem testados pelas demandas específicas de cada situação humana. 

O Bem e o Mal, o Certo e o Errado, o Justo e o Injusto são conceitos universais que só têm sentido se passarem pelo teste de cada complexa situação humana, porque é para resolvê-las que eles foram criados.






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