quinta-feira, 3 de junho de 2010

2113) Se a moda pega (16.12.2009)



(Larry Ochs)

Deu no The Guardian, um jornal respeitável, portanto deve ser verdade. 

(Caro leitor: a primeira parte desse trecho é provavelmente verdadeira, porque foi no saite do jornal que li a matéria, ou pelo menos num saite que se apresenta sob este nome, não sendo impossível que eu tenha sido direcionado a um falso saite homônimo que publica notícias pitorescas e inventadas. 

A segunda parte é conjetura minha, porque ouço há tantos anos falar nesse jornal, e desde que surgiu a Internet fui tantas vezes nesse saite, que acabei produzindo em mim mesmo a noção de respeitabilidade do jornal, coisa com a qual não sei se os leitores ingleses, e os demais, concordariam. 

A terceira parte deve ser imediatamente posta em dúvida, pois nem tudo é verdade que é publicado em jornais respeitáveis; eu próprio vivo a colecionar verdadeiros absurdos publicados naqueles que leio diariamente).

Se o parágrafo anterior lhe deu a impressão de um indivíduo em crise de crença, acertou. Certas notícias me dão a sensação de estar sendo vítima de uma pegadinha. 

Já me ocorreu, nestes tempos internéticos, ir parar (para dar apenas um exemplo) num jornal científico onde li até o fim, fortemente impressionado, uma matéria onde se analisavam palavras em inglês, aparentemente sem sentido, que alguns cientistas, graças ao microscópio eletrônico, haviam descoberto gravadas nas espirais do DNA humano. 

Uma descoberta que iria mudar toda a história da humanidade, e de fato a mudou durante os cinco minutos que levei para perceber que estava lendo uma espécie de Pasquim com paródias científicas. Portanto, como diziam os latinos... caveat, lector!

Toda esta cética introdução é para comentar a notícia (os mais céticos do que eu podem conferi-la aqui: http://tinyurl.com/y88knu8) do que sucedeu com o saxofonista Larry Ochs num festival de jazz na cidade de Sigüenza. A certa altura do show surgiu a Guarda Civil Espanhola para interpelar os organizadores. Segundo eles, um purista que estava na platéia resolveu chamar a polícia porque segundo ele “aquilo não era jazz”. 

Os policiais escutaram alguns minutos do show e chegaram à conclusão de que havia, sim, certo fundamento na queixa do espectador. Criou-se então o bate-boca entre o fã ofendido, os organizadores e os policiais. O pessoal do Festival argumentou que Larry Ochs era um nome conhecido, seu som era de conhecimento público, e se o sujeito comprou o ingresso foi por sua conta e risco. O fã redarguiu que o médico lhe dissera ser “psicologicamente desaconselhável” para ele ouvir qualquer outro tipo de música que não fosse o jazz legítimo. 

Tudo se encerrou sem maiores consequências, mas, segundo o jornal, Ochs passou durante alguns minutos por uma certa crise de identidade musical. 

A pergunta agora é: Já pensou se a moda pega? Já pensou se alguém no Parque do Povo resolve ligar para a polícia e diz: “Venham aqui agora mesmo interromper um show! Isso não é forró nem aqui nem na Coréia!”





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