sábado, 8 de maio de 2010

2018) A “Montanha” de Jodorowsky (27.8.2009)



A Montanha Sagrada é o último filme na Mostra de Alejandro Jodorowsky que está em exibição no Cine SESC, no centro de João Pessoa (Rua Desembargador Souto Maior, 281). As sessões são gratuitas, e acontecem ao meio-dia e às 18 horas. O telefone do Setor de Cultura do SESC é 3208-3158.

Jodorowsky, chileno de origem russa que se tornou famoso fazendo teatro na França e depois cinema nos EUA e México, é um dos expoentes menos conhecidos, aqui no Brasil, da Contracultura dos anos 1960-70, da qual fez parte com uma intensa atuação, que continue até hoje, na literatura, cinema, histórias em quadrinhos, teatro, o escambau. Ele é um desses criadores infatigáveis que mal acordam já estão escrevendo, desenhando, interpretando, combinando formas, associando idéias... Tudo que faz é genial? Nem de longe. Faz um monte de coisas que (pra mim pelo menos) não fazem muito sentido. Mas com 80 anos recém-completados é uma usina de criatividade, energia e bom-humor. Dois anos atrás, assisti um debate com ele aqui no Rio, e pensei que era da minha idade.

A Montanha Sagrada é uma alegoria que lembra certas obras de Glauber Rocha como Cabeças Cortadas. (Eita, com essa referência já fiz 100 mil leitores desistirem de ver o filme!) Mas vai muito mais longe e mais fundo que o filme de Glauber, e tem uma narrativa onde o alegórico, o absurdo, o fantástico e o humorístico se alternam. É a trajetória de um indivíduo chamado O Ladrão através de estágios sucessivos de iluminação e de estudo, conduzido por uma espécie de Alquimista, sobre a verdadeira natureza da sociedade político-militar-industrial em que vivemos.

Moebius, o parceiro de Jodorowsky em HQ, dizia que a cabeça dele funcionava “como 3 mil computadores enlouquecidos”, e conta um episódio de quando estavam tentando adaptar o romance de FC Duna (que acabou sendo filmado por David Lynch). Discutiam como deveriam se vestir os nobres da Casa de Harkonnen. Jodorowsky tapou os olhos com a mão, andou até as estantes, tateou ao acaso, pegou um livro qualquer, abriu ao acaso, e encontrou uma reprodução de um quadro de Ticiano. “Vão se vestir assim!”, bradou ele, para horror e escândalo de Moebius, o qual, por mais maluco que seja (e não é pouco) teve uma formação francesa e cartesiana. “Percebi depois,” confessa o desenhista, “que esse método maluco de Alejandro nos mostra que o ponto de partida criativo pode ser qualquer um, e quanto mais inesperado melhor, porque abre caminho para a contribuição do nosso inconsciente, que sabe tudo”.

Em seu clássico estudo Midnight Movies, J. Hoberman e Jonathan Rosenbaum comentam que “Jodorowsky pode ser visto como um oportunista em estética, numa tradição compartilhada por camelôs de símbolos, de talentos variados, como Shuji Terayama, Fernando Arrabal, Jean Cocteau e Ken Russell”. A Montanha Sagrada, co-produzido por John Lennon, é a produção mais ambiciosa de Jodorowsky e, para alguns, seu melhor filme.

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