terça-feira, 27 de abril de 2010

1962) O tira-teima eletrônico (23.6.2009)



Jogos recentes pela Copa das Confederações tiveram lances importantes decididos pela arbitragem com a ajuda de elementos de fora do campo. No jogo Brasil 4x3 Egito, o último gol do Brasil surgiu de um pênalte que o juiz não viu, mas marcou, com atraso, depois de alertado pelo ponto eletrônico. O uso deste intercomunicador permite ao juiz dialogar com os bandeirinhas (ou, para usar a terminologia atual, permite ao árbitro dialogar com os auxiliares), o que a meu ver ajuda muito a corrigir possíveis distrações, equívocos, etc. Afinal, se o bandeirinha usa seu instrumento para assinalar uma infração, por que não pode usar um microfone para explicar o que foi?

Foi o que ocorreu no jogo Brasil 3x0 EUA, quando uma falta violenta de um jogador norte-americano nem sequer foi marcada pelo árbitro, que na sequência do lance, contudo, expulsou o faltoso. Ele foi claramente avisado pelo bandeirinha; inclusive, depois da expulsão, foi até lá e os dois trocaram umas palavras rápidas. Quanto a isto, tudo bem. O que mais se questiona, no entanto, é que no caso do pênalte cometido pelo jogador egípcio não foi sequer o bandeirinha quem o viu: foi o “quarto árbitro”, que recorreu ao replay da televisão. E aí começou a polêmica.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, já afirmou mais de uma vez que se recusa a permitir que a TV seja utilizada para orientar o árbitro. Diz ele que isso acabaria com a graça do futebol, que depende em grande parte de decisões quase instantâneas tomadas pelo juiz, as quais podem ser equivocadas, porque afinal ele não pode ver tudo, interpretar corretamente tudo. O futebol tem, assim, um componente imponderável, imprevisível, sujeito a erros, o que seria característico do esporte. Introduzir “tira-teimas” com TV iria amarrar o jogo, fazendo com que a cada instante o time que se sentisse prejudicado com uma marcação interrompesse o jogo para exigir verificação eletrônica.

Pode até ser, mas não acho que isso interrompesse ou tumultuasse um jogo mais do que já acontece quanto o juiz comete um erro claro, ou quando um lance é de difícil interpretação. Ou – o que é cada vez mais frequente – quando os jogadores tumultuam por tumultuar mesmo, porque querem ganhar as marcações na marra, no grito, na intimidação.

O basquete, por exemplo, tem a lateral da quadra ocupada por uma equipe de cronometristas, anotadores de faltas, etc., todos auxiliando o juiz principal em suas marcações. O futebol só teria a ganhar com isto. O único perigo que corremos é que a coisa desande, e cheguemos um dia a ter um futebol decidido não por gols, mas pela avaliação de juízes em mesas ao lado do campo (ou cabine blindada!). O número de gols marcados seria tão irrelevante quanto o número de escanteios. O júri iria anotando as estatísticas (posse de bola, passes certos, etc.) em pranchetas, e no fim daria seus votos, como nas lutas de boxe. Mas, enquanto isto não chega, seja bem vindo o tira-teima eletrônico.

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