Para sobreviver, foi jornalista a vida inteira, colaborando em jornais e editando diversas revistas literárias. E essa vivência o colocou no centro de uma tendência do século 19 que teve amplificações curiosas no século 20.
Essa tendência foi a dos embustes jornalísticos – matérias inventadas que se faziam passar por relatos autênticos, e muitas vezes iludiam por completo um público leitor que, carente de informação mas incapacitado de encontrá-la por conta própria, acabava acreditando nas peças que jornalistas desocupados lhes pregavam.
O primeiro embuste bem sucedido de Poe foi “A Aventura Sem Par de Hans Pfaall”, publicado no Southern Literary Messenger, de Richmond, em junho de 1835. O texto é basicamente uma carta escrita por um holandês às autoridades de Amsterdam, narrando com detalhes sua viagem de balão até a Lua, e fornecendo alguns detalhes sobre a paisagem e os habitantes lunares.
Poe tinha conhecimentos sólidos de astronomia e de balonagem, e era um leitor veloz e onívoro quando precisava informar-se sobre algo. Seu relato, apesar do tom evidentemente satírico (e de um pós-escrito que praticamente entrega o embuste) tinha um tom de tal verossimilhança astronáutica que enganou muitos leitores. É bem possível que essa narrativa tenha fornecido a Julio Verne boa parte da inspiração para seu clássico Da Terra à Lua (1865).
Poe preparou o terreno para o que ficou conhecido como “O Grande Embuste Lunar”, perpetrado pelo jornal New York Sun a partir de agosto daquele ano, dois meses após “Pfaall”. Os artigos proclamavam que Sir John Herschel (um dos maiores astrônomos da época) tinha descoberto pelo telescópio sinais de vida na Lua. Cada novo artigo dava mais detalhes, alternadamente verossímeis e fantasiosos, sobre a fauna selenita. O jornal conseguiu uma vendagem espantosa nesse período, e a autoria dos artigos, ainda que duvidosa, é hoje atribuída a Richard Locke, jornalista do Sun.
Poe ficou um tanto enciumado. O tom satírico de seu próprio texto tinha impedido que ele fosse tão levado a sério quanto dos artigos de Locke, que eram escritos, como dizemos hoje, “na maior cara de pau”. Ele estava na época trabalhando numa continuação das aventuras de “Hans Pfaall” mas abandonou o projeto, por achar que depois do embuste do Sun ser confirmado ninguém mais poderia levá-lo a sério.
O mais interessante dos embustes de qualquer natureza é que por mais implausíveis que sejam acabam sendo acreditados por milhares ou milhões de pessoas. Nos anos 1830, em que circulavam as mais espantosas (para a época) descobertas astronômicas através de telescópios, e que a navegação por balões se tornava uma realidade, qualquer aventura dessa natureza poderia ser acreditada.
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