terça-feira, 26 de janeiro de 2010

1573) Walter da Silveira (28.3.2008)



Quando virei cineclubista, há cerca de quatro décadas, eram poucos os livros de cinema. Elementos de Cinestética, do Padre Guido Logger, uma obra básica sobre linguagem do cinema; a História do Cinema Mundial de Georges Sadoul, em dois volumes, uma overdose de informações, fonte de consulta até hoje; Caminhos do Cinema de José Rafael de Menezes, coletânea de reflexões sobre cinema e sociedade, por um pensador paraibano ligado ao movimento cineclubista. Entre eles, havia um livrinho de capa amarela intitulado Fronteiras do Cinema, de Walter da Silveira.

Foi talvez o primeiro livro que li no qual alguém dissecava em profundidade os grandes filmes. Quando vi pela primeira vez clássicos como Hiroshima, meu Amor ou a trilogia da incomunicabilidade de Antonioni, era como se estivesse revisitando obras vistas, revistas, vividamente imaginadas. Walter da Silveira (1915-1970) foi um dos grandes críticos baianos das décadas de 1950-60 que viram surgir o Cinema Novo brasileiro. Depois de sua morte, sua biblioteca de obras sobre cinema foi colocada numa sala da Associação Baiana de Imprensa, perto da Praça da Sé, sala onde já passei tardes memoráveis lendo obras raras e fazendo copiosas anotações.

Walter foi fundador (em 1950) e primeiro presidente do Clube de Cinema da Bahia, e desde então exerceu a crítica e o cineclubismo de maneira intensa. Recebi há pouco, por intermédio de José Umbelino Brasil, a coletânea dos artigos de Walter organizada em Salvador por José Umberto Dias. São quatro volumes, com cerca de 1.500 páginas no total. O primeiro cobre sua atividade crítica em jornais como O Momento, A Tarde, O Imparcial, etc., durante as décadas de 1940-50. O segundo tem material colhido do Jornal da Bahia, do Diário de Notícias e da Revista de Cultura Cinematográfica nos anos 1960. O volume 3 traz textos informativos sobre os filmes exibidos nas sessões de cineclubes, além de artigos variados em jornal, crítica literária e poemas. E o volume 4 traz seus artigos sobre artes plásticas, política e economia, além da artigos críticos a seu respeito.

A obra intitula-se Walter da Silveira – O Eterno e o Efêmero (Oiti Editora, 2006), e não deve haver um título melhor para descrever a atividade do jornalista, resenhador e crítico. O sujeito passa uma noite em claro burilando um artigo cheio de idéias revolucionárias e de frases bem torneadas. Na manhã seguinte o artigo estará sendo lido em milhares de residências, de cafés, de esquinas, de escritórios. E com mais 24 horas estará forrando gavetas ou embrulhando copos para uma mudança. O melhor de Walter da Silveira são as críticas longas, com fôlego de ensaio, onde ele revirava um filme por todos os lados, ao comentar Bergman, Chaplin, Welles, Antonioni, Kurosawa. E em suas longas e ferrenhas discussões sobre o cinema baiano e o cinema brasileiro, na época em que davam seus primeiros passos.

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