sábado, 2 de janeiro de 2010

1464) Impressão por demanda (22.11.2007)



“Impressão por demanda” (“Print on Demand”, ou POD) é o termo técnico para a edição de livros de acordo com a demanda que possa existir por eles. O autor/editor prepara os originais e se achar que dá para vender 150 exemplares ele manda imprimir 150. Se depois disso ele perceber que tem mais 30 pessoas interessadas, manda imprimir mais 30, e assim por diante. Edições tradicionais de livros tinham que se dar de outra forma: mandava-se imprimir uma edição inicial de 2 mil exemplares e ficava-se torcendo para que vendessem logo. Eu tenho livros publicados há mais de dez anos que venderam apenas metade da edição, o que significa que a editora mantém outros mil exemplares empacotadinhos em algum armazém na Baixada Fluminense, esperando que um arqueólogo marciano os descubra um dia.

O problema com esse modelo tradicional de edição é que as máquinas impressoras são tão grandes e de operação tão complicada que não faz sentido ocupá-las para imprimir 100 livros; seria como usar um rifle para matar uma barata. Já que o livro de Fulano tem que ser editado, é melhor fazer logo 2 mil exemplares e torcer para que existam 2 mil pessoas interessadas no livro de Fulano. Como na maioria dos casos isso não ocorre, as editoras imprimem mais do que podem vender, passam alguns anos pagando aluguel de depósito para guardar esses livros encalhados, e depois vendem o livro “no peso”. Aí, na melhor das hipóteses, eles vão para os sebos ou as feiras-do-livro, para as barraquinhas onde a gente compra um livro por 5 reais e três por 10.

O esquema de “impressão por demanda”, elimina o encalhe, o desperdício, as despesas de armazenagem. O crítico John Clute chama a este sistema “livros que existem se alguém procurar por eles, e não existem se ninguém os procura”. Ele não se refere aos textos literários, claro, mas ao livro como objeto físico. A impressão em computador faz com que não seja absurdamente caro fazer uma tiragem de 30 ou 40 livros por vez. Muitos autores imprimem seus livros nessa quantidade às vésperas de uma palestra, um curso, etc., quando sabem que irão reunir um público que tem interesse em seu trabalho mas talvez não se desse o trabalho de sair procurando seus livros de livraria em livraria.

Essa novidade aparentemente inócua é uma das grandes revoluções da literatura de hoje, fazendo com que o livro se afaste das grandes tiragens industriais que o tornam parente próximo do automóvel e do sabão-em-pó, e o aproximem de práticas mais artesanais como a serigrafia ou a gravura. O problema com a indústria dos best-sellers é que ela faz morrer à míngua tudo que não seja um best-seller. Quando um mercado se aparelha para vender tiragens de 50 mil, um livro de mil exemplares é um desperdício, uma sub-utilização. A impressão por demanda, caseira, artesanal, traz o livro de volta a um tempo anterior à Ditadura do Sucesso Quantitativo.

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