segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

1437) Chão de giz (21.10.2007)


(o gigante de Cerne Abbas)

O título desta canção de Zé Ramalho sempre me lembrou as figuras misteriosas cujas fotografias vi pela primeira vez num livro intitulado O Mundo Misterioso de Arthur C. Clarke, em que o escritor inglês comenta fatos misteriosos e extraordinários como as aparições de OVNIs, do Monstro do Lago Ness, do Abominável Homem das Neves e assim por diante. Misturados a estas lendas estão alguns fatos curiosos mas sem mistério algum, a não ser o mistério histórico de quem os fez, como, e por quê. São aquelas inscrições vastas feitas no chão, às vezes com centenas de metros de comprimento, e que só podem ser vistas por inteiro por alguém que sobrevoe a região. Este detalhe levou especuladores como Erich von Daniken e outros a sugerir que tais figuras na paisagem seriam uma tentativa de comunicação com extraterrestres. Acho mais simples supor que os caras que fizeram as inscrições acreditavam que seu Deus ou seus deuses estavam no céu, e era a eles que os desenhos se dirigiam. Para imaginar que as divindades habitam o céu não é preciso ter feito contato com alienígenas, basta ter visto um céu estrelado à noite.

Algumas dessas imagens podem ser vistas em: http://www.youtube.com/watch?v=-7pJeHY-fLI. É um passeio virtual por imagens de satélite que mostram desde as Linhas de Nazca, no Peru, até um logotipo da Coca-Cola gravado no chão de um deserto chileno. No meio delas, aparecem as imagens do “chão de giz”, todas na Inglaterra. Dou-lhes este nome porque elas foram feitas em regiões onde o solo, a certa profundidade, é feito de material calcáreo e muito branco. Basta escavar e deixar à mostra uma certa extensão daquela camada, e é possível fazer desenhos de grande extensão em que as linhas brancas se destacam vividamente de encontro ao verde da vegetação rasteira. Por outro lado, requerem manutenção. Depois de prontas, é preciso que todo ano alguém fique limpando o local e evitando que o mato recubra a área exposta. Muitas figuras semelhantes já devem ter se perdido porque ninguém cuidou delas.

As figuras mais famosas são o Cavalo Branco de Uffington, o Homem Grande de Wilmington, e o Gigante de Cerne Abbas, o qual deve ter causado certo desconforto aos extraterrestres mais puritanos, por ser a imagem de um guerreiro nu com, digamos, a arma em riste. Há um saite com fotos de figuras assim, preservadas ou parcialmente desaparecidas, em: http://www.hows.org.uk/personal/hillfigs/. Obras assim nos comovem por terem sido feitas por indivíduos que nunca as viram por inteiro. Como os pedreiros das igrejas medievais, que nunca as viram prontas, eles trabalhavam tendo em mente uma imagem ideal, que era sua única inspiração e sua única fruição. Por incrível que pareça, o ser humano gosta disto. Gosta de trabalhar por algo que não desfrutará no futuro, seja porque a execução da obra ultrapassa seu tempo de vida, seja porque o formato final dela será inacessível à sua visão.

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