(Ténéré, 1961)
Sou um admirador da Natureza, mais com olhos de cientista do que de poeta. “Que belo crepúsculo!” exclamam as pessoas, com os olhos marejados de romantismo; e eu concordo. Como não ficar comovido? Fico pensando na quantidade de refrações e de sub-refrações que aqueles raios luminosos estão realizando entre camadas sucessivas de nuvens, de vapor rarefeito, de poluição atmosférica. É impossível que aquela combinação peculiar de obstáculos ópticos ocorra outra vez. Aquele crepúsculo que estou vendo jamais se repetirá.
O saite “As Dez Árvores Mais Magníficas do Mundo” (http://www.neatorama.com/2007/03/21/10-most-magnificent-trees-in-the-world/) produz uma sensação parecida. Se admiramos obras da engenharia (pirâmides, muralhas, templos) como não admirar uma coisa bela que brotou sozinha, sem prancheta, sem mestre-de-obras, sem licitação pública? Neste saite vemos fotografias de árvores como a sequóia “General Sherman” na Califórnia, a árvore mais volumosa do mundo (cerca de 1.500 metros cúbicos, 6 mil toneladas). Curiosamente, mais volumosa do que ela parece ser (mas não é, por não ser tão alta) a “Árbol del Tule”, um cipreste em Oaxaca (México) que parece (desculpem-me o antropocentrismo) um projeto a quatro mãos entre Gaudí e Santiago Calatrava. Também curioso é o “Gigante Trêmulo do Utah”, um único organismo vegetal composto de 47 mil caules muito finos que se espalham por 107 acres de terra; a foto em preto-e-branco, sob a neve, é de emoldurar e pendurar na parede.
Está aqui a famosa sequóia com uma abertura na base de seu tronco por onde passa um automóvel (na verdade, há quatro árvores assim na Califórnia). Tem a árvore-igreja de Allouville-Bellefosse, na França, em que uma capela foi construída num carvalho oco em 1669. A árvore foi morrendo aos poucos e as partes mortas sendo substituídas por próteses de madeira, a tal ponto que hoje não se sabe mais o que é natural ou artificial.
Não há limite para os prodígios da Natureza – nem para a estupidez humana. Em 1964 um estudante estava extraindo amostras de uma árvore, nos EUA, quando a sua broca quebrou dentro do tronco. Ele pediu autorização ao Serviço Florestal para cortar a árvore e recuperar a peça. Fê-lo. E aí descobriram, pelo exame dos anéis internos do tronco, que a árvore tinha 5 mil anos, e era provavelmente, naquela época, a árvore mais velha do mundo. E há o caso da “Árvore Solitária de Ténéré”, uma acácia situada no Saara nigeriano, que sobrevivia solitária na areia (a foto é impressionante) graças a raízes com 36 metros de extensão. Era a única árvore numa área de 400 km, e possuía dois troncos paralelos. Em 1959, um deles foi destruído pela colisão de um veículo, deixando apenas um toco; em 1973, um motorista líbio, embriagado, derrubou o tronco restante, que foi levado para o Museu Nacional da Nigéria, e substituído no local de origem por uma escultura em metal. Não precisa muito mais para desmoralizar a Humanidade.
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