(os Amish, no filme de Peter Weir)
Há alguns dias, nos EUA, um homem chamado Charles Roberts entrou numa escola da comunidade Amish, na Pensilvânia. Mandou todos os meninos saírem. Queria apenas as meninas. Ficaram dez garotas entre 8 e 12 anos. Ele amarrou todas, e atirou nelas de uma em uma, antes de se matar também. Cinco das garotas morreram, outras cinco estão hospitalizadas no momento em que escrevo. As escolas norte-americanas “têm um chama” para esses Exterminadores do Futuro, que agem como se quisessem matar um Messias qualquer mas tivessem que fazê-lo às cegas.
Os Amish são um grupo religioso conservador, concentrado em alguns estados ao Nordeste dos EUA. Eles recusam coisas como a eletricidade, o automóvel, o telefone, etc. Muitos hão de se lembrar do filme A Testemunha, onde Harrison Ford, no papel de um policial disfarçado, vai viver numa destas comunidades para proteger um garoto que presenciou um assassinato. Após o crime da Pensilvânia, um grupo de 30 ou 40 pessoas da comunidade Amish foi ao enterro do criminoso, para prestar solidariedade à família. Quando eu leio uma coisa assim, perco o prumo. Se eu tivesse uma filha de dez anos e ela fosse rendida, amarrada e fuzilada a sangue frio por um sujeito, eu não compareceria ao enterro dele. Faria o possível para comparecer ao linchamento.
Como sou agnóstico na teoria e cristão na prática, é claro que não lincharia ninguém. Sou até contra a pena de morte. Mas descubro que os Amish, com seus chapéus largos, suas barbas soturnas, seus cabriolés negros, são muito mais cristãos do que eu. Li em algum lugar que sua prática religiosa (eles são cristãos anabatistas, de origem suíço-alemã) se baseia em dois conceitos. Um é o de “Gelassenheit”: submissão à vontade de Deus, deixando que as coisas sigam seu próprio rumo; e “Demut”, humildade, que para eles é o contrário de “Hochmut”, arrogância, orgulho, “húbris”. Os Amish cultivam a solidariedade, e sua recusa às máquinas deve-se em parte a acreditarem que estas diminuem a necessidade do trabalho coletivo e do apoio mútuo. Eles rejeitam a competitividade, a vaidade pessoal (não gostam de fotografias), o individualismo.
Vai daí que, depois de sepultadas as suas próprias crianças, eles se aprontam, trocam de roupa, pegam as charretes e vão confortar a viúva e os filhos pequenos do criminoso, porque acham que aquela família, tanto quanto as deles, foi vítima de uma tragédia. Seu senso comunitário os leva a solidarizar-se até mesmo com aquela família que não pertence à sua comunidade, mas que, por causa do crime cometido por um de seus membros, uniu-se a eles. Um antigo e profundo mote de Cantoria de Viola diz: “Chora a mãe do assassino / e a mãe do assassinado”. Um crime de morte é sempre uma tragédia com duas vítimas, porque pior do que morrer, para muitas religiões, é matar. No mito bíblico do primeiro assassinato, quem sofreu mais, a mãe de Abel ou a mãe de Caim?
Há alguns dias, nos EUA, um homem chamado Charles Roberts entrou numa escola da comunidade Amish, na Pensilvânia. Mandou todos os meninos saírem. Queria apenas as meninas. Ficaram dez garotas entre 8 e 12 anos. Ele amarrou todas, e atirou nelas de uma em uma, antes de se matar também. Cinco das garotas morreram, outras cinco estão hospitalizadas no momento em que escrevo. As escolas norte-americanas “têm um chama” para esses Exterminadores do Futuro, que agem como se quisessem matar um Messias qualquer mas tivessem que fazê-lo às cegas.
Os Amish são um grupo religioso conservador, concentrado em alguns estados ao Nordeste dos EUA. Eles recusam coisas como a eletricidade, o automóvel, o telefone, etc. Muitos hão de se lembrar do filme A Testemunha, onde Harrison Ford, no papel de um policial disfarçado, vai viver numa destas comunidades para proteger um garoto que presenciou um assassinato. Após o crime da Pensilvânia, um grupo de 30 ou 40 pessoas da comunidade Amish foi ao enterro do criminoso, para prestar solidariedade à família. Quando eu leio uma coisa assim, perco o prumo. Se eu tivesse uma filha de dez anos e ela fosse rendida, amarrada e fuzilada a sangue frio por um sujeito, eu não compareceria ao enterro dele. Faria o possível para comparecer ao linchamento.
Como sou agnóstico na teoria e cristão na prática, é claro que não lincharia ninguém. Sou até contra a pena de morte. Mas descubro que os Amish, com seus chapéus largos, suas barbas soturnas, seus cabriolés negros, são muito mais cristãos do que eu. Li em algum lugar que sua prática religiosa (eles são cristãos anabatistas, de origem suíço-alemã) se baseia em dois conceitos. Um é o de “Gelassenheit”: submissão à vontade de Deus, deixando que as coisas sigam seu próprio rumo; e “Demut”, humildade, que para eles é o contrário de “Hochmut”, arrogância, orgulho, “húbris”. Os Amish cultivam a solidariedade, e sua recusa às máquinas deve-se em parte a acreditarem que estas diminuem a necessidade do trabalho coletivo e do apoio mútuo. Eles rejeitam a competitividade, a vaidade pessoal (não gostam de fotografias), o individualismo.
Vai daí que, depois de sepultadas as suas próprias crianças, eles se aprontam, trocam de roupa, pegam as charretes e vão confortar a viúva e os filhos pequenos do criminoso, porque acham que aquela família, tanto quanto as deles, foi vítima de uma tragédia. Seu senso comunitário os leva a solidarizar-se até mesmo com aquela família que não pertence à sua comunidade, mas que, por causa do crime cometido por um de seus membros, uniu-se a eles. Um antigo e profundo mote de Cantoria de Viola diz: “Chora a mãe do assassino / e a mãe do assassinado”. Um crime de morte é sempre uma tragédia com duas vítimas, porque pior do que morrer, para muitas religiões, é matar. No mito bíblico do primeiro assassinato, quem sofreu mais, a mãe de Abel ou a mãe de Caim?
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