Vi com atraso este belo e ocasionalmente divertido filme alemão, onde uma mulher na Alemanha Oriental passa alguns anos em coma e, quando desperta, força seus filhos a uma complicada manobra de despiste para que ela não perceba que o Comunismo acabou. Presa à cama, ela recebe a visita de pessoas cuidadosamente vestidas com as roupas modestas da era comunista, come os alimentos que se encontravam nos supermercados antes da Queda do Muro, e assim por diante.
Toda a conspiração é urdida pelo filho mais novo, que quer evitar que a mãe tenha um enfarte ao saber que o Comunismo, pelo qual ela lutou a vida inteira, acabou fracassando. Como o rapaz tem um amigo que tem acesso a uma ilha de edição e tem veleidades de cineasta, os dois começam a produzir falsos telejornais com notícias otimistas sobre a Alemanha Oriental, usando para isto uma cuidadosa edição de imagens. As cenas da Queda do Muro de Berlim, por exemplo, são vistas pela mulher como sendo o resultado de pressões políticas dos jovens do lado ocidental, cansados de consumismo e querendo viver uma vida mais solidária e mais participativa, no lado comunista.
É um filme sobre amor filial e sobre o clássico conceito da “piedosa mentira”, em que enganar alguém resulta numa boa ação. Mas é também um filme que mostra as infinitas possibilidades de manipulação das pessoas através de texto e imagem. Quando a mulher doente vê um painel da Coca-Cola num edifício próximo, o filho “produz” uma reportagem em que demonstra que a fórmula original do refrigerante tinha sido inventada na Europa comunista, e que a companhia americana cedeu à Alemanha Oriental os direitos de fabricação. Nenhuma notícia parece inverossímil quando é respaldada pela enorme credibilidade de um telejornal, cujas imagens cuidadosamente editadas são tidas como prova suficiente.
A imagem mais forte de Adeus, Lênin é talvez a cena em que a mulher consegue vestir um roupão e sair à rua, onde vê out-doors capitalistas, carros ocidentais, etc. A certa altura, ela vem caminhando pela calçada de um parque quando vê aproximar-se um helicóptero que conduz, pendurada por um enorme cabo de aço, uma estátua de Lênin, na pose tradicional com o braço esticado e o dedo em riste. A estátua passa a alguns metros de distância da mulher, como se olhasse para ela, e vai embora.
É um filme sobre manipulação da realidade. Os alemães orientais viveram décadas de propaganda estatal garantindo-lhes que eles viviam no melhor dos mundos e na mais justa das sociedades, apesar da visível diferença entre o que era dito pela mídia e o que era visto na ruas. Depois da Queda do Muro e da unificação, será que os alemães aceitam passivamente a propaganda da mídia capitalista, como aceitaram a outra? Bem que alguém poderia fazer um segundo filme em continuação a este, mostrando que às vezes a gente acorda de um pesadelo para se encontrar no interior de outro.
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