sábado, 21 de fevereiro de 2009

0827) O sintetizador Moog (10.11.2005)




(o Moog de 1970)

Eu devia ter uns dez anos de idade quando apareceu em Campina Grande um sujeito para fazer uma demonstração pública do Theremin, um instrumento eletrônico de produzir música; o primeiro sintetizador. 

Não me lembro se a demonstração foi feita no auditório da Rádio Borborema (onde se apresentavam os artistas de fora, desde Cauby Peixoto até Elza Soares) ou em cima de um caminhão na Praça da Bandeira (naquele tempo não tinha essa mordomia de “palco desmontável”).

Em todo caso, ficamos grudados ao pé do rádio, escutando aqueles sons estranhos, que pareciam os gemidos do próprio Espaço Sideral. 

Pascal disse certa vez, referindo-se ao Cosmos: “O silêncio eterno desses espaços infinitos me amedronta”. Meu caro cientista, esses espaços estão repletos de estrídulos, lamentos, rangidos, uivos, rosnados e rugidos. Nós os captamos toda vez que giramos o botão de sintonia ao longo das faixas de um rádio AM: ouvimos ali a cacofonia cósmica, o fervilhar atômico das explosões da matéria. Pois o Theremin era algo parecido.

Do concerto só lembro a explicação do executante, de que aproximando ou afastando uma das mãos ele controlava o volume, e aproximando ou afastando a outra controlava os graves e agudos. 

O Theremin teve breves momentos de popularidade quando grupos de rock como os Beach Boys e o Led Zeppelin o utilizaram em gravações (quem quiser saber mais sobre o Theremin, veja em: http://www.thereminworld.com/learn.asp). Quem teve presença mais marcante, contudo, foi o sintetizador Moog, cujo inventor, Robert Moog, faleceu em agosto passado. 

Moog começou a carreira montando e vendendo Theremins, mas tinha idéias próprias sobre o aparelho e em 1964 produziu seu primeiro sintetizador, que entre outras inovações introduziu o uso de um teclado semelhante ao do piano.

Os discos que sacramentaram o sintetizador Moog como um instrumento par-a-par com os não-eletrônicos foram os trabalhos de Walter (hoje Wendy) Carlos Switched-on Bach (1968) e The Well-Tempered Synthesizer (1969). 

Os Beatles começaram a fazer experiências com ele em 1968, depois que George Harrison adquiriu um, durante uma passagem pela Califórnia. Os primeiros testes apareceram no seu disco solo Electronic Sounds, um dos mais obscuros lançamentos da Apple, e hoje uma raridade. Em seguida, o Moog foi usado em Abbey Road, nas gravações de “Because”, “Maxwell’s Silver Hammer”, “I Want You”, e “Here Comes the Sun”.

Os sintetizadores analógicos dessa época foram substituídos pelos sintetizadores digitais de hoje, mas têm uma sonoridade própria que é a cara dos anos 1960, tanto quanto o perfume de patchuli ou os posters psicodélicos. 

Os Beatles eram camaleões que mudavam de som de acordo com a música que tocavam, e eram avestruzes que devoravam qualquer inovação tecnológica que lhes despertasse a curiosidade. Por onde quer que a gente passe na música pop de hoje, encontra suas pegadas (os pés descalços são os de Paul).









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