sexta-feira, 10 de outubro de 2008

0588) O oitavo pecado capital (5.2.2005)




O Todo-Poderoso raramente me consulta antes de tomar uma decisão. 

Vejam por exemplo os Sete Pecados Capitais. O número sete é um número troncho, anti-estético, cuja fama se deve apenas aos contos-de-fadas. Muito melhor o número Oito, um número simétrico, aberto em todas as direções, e que traz em si o gérmen de uma poderosa Mandala. Muito mais adequado a quem tem como logotipo uma Cruz. 

Para completar a conta, eu teria que sugerir um Oitavo Pecado, o que me apresso a fazer agora.

O Oitavo Pecado Capital, para mim, chama-se: a Falta de Curiosidade. À primeira vista parece menos perigoso do que a Inveja ou a Ira, e parece ter causado muito menos guerras e crimes do que estes dois. Mas a Falta de Curiosidade é responsável por um inimigo solerte que ataca a Humanidade pelos flancos: a Perda do Sentido. 

Quantas vezes ficamos sabendo de pessoas que tentaram o suicídio porque sua a vida “não tinha mais sentido”? Quantos crimes absurdos são cometidos no mundo por indivíduos que não se interessam pelo mundo, não se interessam por outras pessoas, não se interessam sequer por si mesmas, e por isso tornam-se “serial killers”? 

A Falta de Curiosidade pelo mundo faz dos Estados Unidos, hoje, o país mais perigoso do mundo, um bicho que é uma mistura de tartaruga com cascavel, que prefere passar a vida entocado dentro de sua carapaça protetora, e que só sai dali quando se sente ameaçado, para retaliar às cegas.

Vejam a nossa vida cotidiana. O mundo hoje é uma agressão sensorial permanente. A mídia-ambiente (ver “A Mídia Ambiente”, 17.6.2003) nos envolve por todos os lados, é uma floresta amazônica de imagens, slogans, ruídos, out-doors, jingles, adesivos, cartazes, vitrines, comerciais, spams, pop-ups, tudo como se fossem milhões de insetos querendo entrar ao mesmo tempo pelos sete buracos de nossa cabeça. 

Tudo nos é oferecido, ou melhor, tudo nos é imposto como escolha. Andando na rua, vendo TV, navegando na Net ou empunhando o celular, não precisamos ir atrás do mundo, o mundo jorra suas mensagens sobre nós, feito uma sangria desatada. A cada cem recados do Mundo, escolhemos um para dar atenção por meio minuto, e os restantes se dissipam, sendo imediatamente substituídos por outros.

Vai daí que... perdemos a Curiosidade. Não procuramos, não corremos atrás, não precisamos querer nada, basta-nos cravar o X na múltipla escolha que nos é oferecida sem cessar. 

Fujam disso, coleguinhas. É um pecado, é um perigo. Nascemos para ter interesse pelo mundo, nascemos para “correr atrás”. É natural do ser humano querer saber, querer saber mais, querer conhecer, querer ir até o fim. Não ter curiosidade pelo mundo, pelas pessoas, por tudo que aconteceu no Passado remoto ou que poderá acontecer no remoto Futuro, é um defeito grave. 

É um Pecado, e quem o comete irá expiá-lo no inferno da Falta de Sentido, no Lago Gelado dos Sem-Amor, onde nada importa, nada interessa, nada vale a pena.







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