terça-feira, 9 de setembro de 2008

0538) O Código Da Vinci (9.12.2004)



Não, leitor, sinto muito mas não li esse thriller policial de Dan Brown, que está vendendo mais do que coca-cola no Saara. Mede-se o sucesso de um livro pela quantidade de outros livros que tentam pegar carona nele, não é mesmo? Tem horas que eu penso que endoideci, mas já temos nas prateleiras de nossas livrarias títulos como Revelando o Código da Vinci (Martin Lunn), Quebrando o Código Da Vinci (Darrell L. Bock & Heiko Bock), Decodificando Da Vinci (Amy Welborn), Decifrando o Código Da Vinci (Simon Cox), e A Fraude do Código Da Vinci (Erwin Lutzer). É mole ou quer mais?

Quando o livro começou a fazer sucesso, no ano passado, fui numa dessas livrarias online (tipo Amazon ou Barnes & Noble) que oferecem de graça o primeiro capítulo, baixei, e li. Confesso que não me entusiasmei muito. Eu esperava um thriller cheio de enigmas e muito bem escrito, mais ou menos como O Clube Dumas de Arturo Pérez-Reverte. O primeiro capítulo que li me lembrou a “pulp fiction” dos anos 30: uma narrativa melodramática, estilo pedestre, e havia um tal dum telefonema com uma voz arquejante do outro lado recitando uma porção de lugares-comuns... “Pulp-fiction por pulp-fiction,” pensei, “acho que vou reler Fu-Manchu ou Fantomas.”

Pelos comentários que vi, Dan Brown explora a teoria conspiratória segundo a qual Jesus Cristo teria sobrevivido à cruz, casado com Madalena e deixado uma linhagem de descendentes. Este segredo teria sido guardado durante séculos pelos Cavaleiros Templários, até que estes entraram em rota de colisão com as monarquias européias, que temiam o aparecimento de um sujeito qualquer dizendo: “Eu sou o tatataraneto de Jesus, e quero ser coroado rei da França...” Pense num problema diplomático! Pegaram os Templários, queimaram seus arquivos e por via das dúvidas queimaram todos eles também.

Toda essa história está milimetrada num livro-reportagem (este, sim, interessantíssimo) de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, já publicado no Brasil. Encontrei este livro por acaso, há quinze anos, num sebo de Lisboa, e como tinha passado a tarde inteira percorrendo as criptas da Torre de Belém e os corredores do Mosteiro dos Jerônimos, pareceu-me muito plausível essa teoria mirabolante sobre mensagens cifradas, tesouros enterrados, heranças misteriosas, e sociedades secretas.

Vi na imprensa que os autores do “Santo Graal” estão processando Dan Brown, o que é uma bobagem. Os fatos da reportagem são agora públicos, e qualquer um teria o direito de reutilizá-los numa obra de ficção. Daqui a pouco vai ter escritor brasileiro querendo seguir o mesmo filão. Que besteira. Bem que podíamos ter “thrillers” brasileiros de mistério histórico, falando do retorno de Dom Sebastião, tesouros ocultos nas ruínas de Canudos, uma máquina-do-Tempo deixada incompleta pelos holandeses em Pernambuco, ou a guerra de xamãs que deixou em ruínas as Sete Cidades do Piauí.

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