(desenho de Saul Steinberg)
Já se tornou um clichê no cinema, nos livros, na televisão. Um casal de turistas vai por uma cidade estranha, tendo nas mãos um mapa, e tentando achar a Praça ou a Rua Fulano de Tal. Entram numa rua, saem noutra, e nada de chegarem onde querem.
A mulher puxa o braço do marido: “Zé, vamos perguntar.” E ele, carrancudo: “Não, não precisa, a gente está quase achando.” Ela, à beira das lágrimas: “Amor, vamos perguntar, não custa nada.” E ele: “Tá maluca? E meu amor próprio?”
Nunca vi um cartum ou uma cena de filme que mostrasse o contrário disto, ou seja, o homem querendo perguntar e a mulher querendo achar por conta própria. É um desses clichês entranhados em nossa cultura, para nos fazer acreditar que os homens agem sempre da forma A e as mulheres automaticamente agem da forma B.
Para mim não é isto que acontece. Essa divisão da Humanidade em “homens” e “mulheres”, na minha opinião, só tem relevância quando se trata do que chamamos eufemisticamente de “os folguedos do amor”.
No mais, as pessoas se dividem em dois tipos: as que acham a coisa mais simples pedir ajuda a alguém quando estão em dificuldade (e aí entram tanto homens quanto mulheres) e as que acham que a coisa mais natural é continuar tentando por conta própria até encontrar uma solução (idem idem).
Tudo isto pode depender de mais fatores do que conseguirei enumerar neste espaço.
Certos casais tendem, instintivamente, a assumir polos opostos em qualquer situação; outros tendem a um rápido consenso.
Pessoas que crêem estar em seu ambiente tendem a querer resolver tudo por conta própria, pois acham que é isto que se espera delas (uma parisiense, em Paris, tentará achar o endereço por si mesma, ainda que seu companheiro brasileiro implore para que peçam informações).
Homens e mulheres de índole prática querem uma solução rápida para tudo, e não hesitam em perguntar.
Homens e mulheres de índole mais contemplativa ou aventureira não se importam de bater pernas durante horas à procura de algo, pois às vezes o trajeto é mais interessante do que o ponto de chegada.
Vou logo avisando que pertenço ao segundo grupo, o grupo dos que não perguntam nem que a vaca tussa. Gosto de descobrir sozinho, a menos que esteja indo para o Pronto Socorro, ou para assistir um espetáculo, ocasiões em que de fato é preciso resolver o problema bem depressinha. Não sendo assim, nada feito.
Já passei uma tarde inteira procurando uma catedral que por todos os indícios devia estar bem diante do meu nariz, e só depois entendi que estava na extremidade oposta da avenida. Não importa; não foi tempo perdido. No dia seguinte, quando precisei, já sabia a avenida de cor e salteado.
E tudo é, também, uma questão de filosofia de vida. É como diz o Budista Tibetano: "Prestai atenção, irmãos: perguntando o Caminho a alguém, chega-se mais depressa. Procurando até achar, descobre-se o Caminho."
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