domingo, 6 de abril de 2014

3466) Shakespeare e a ciência (6.4.2014)



Este ano estão sendo comemorados os 450 anos de nascimento de William Shakespeare (1564-1616) e é claro que pipocam artigos sobre ele o tempo inteiro.  

Achei no saite do The Telegraph (aqui: https://tinyurl.com/yxvgspmu), um texto intitulado “Shakespeare, o Rei do Espaço Infinito”, em que Dan Falk examina os conhecimentos astronômicos do Bardo e sugere que eram muito avançados para sua época, que ainda defendia a visão ptolemaica (a Terra como centro do universo). O poeta de Avon foi contemporâneo de Copérnico (cujo livro De Revolutionibus é de 1543) e de sua teoria do Sol como centro do sistema solar, e há muitos doutorandos ingleses passando pente-fino nas peças em busca de referências.

Falk menciona que o primeiro relato detalhado de um inglês sobre a teoria de Copérnico foi de Thomas Digges (c.1546-1595), que morava a algumas centenas de metros do dramaturgo. Seu filho Leonard Digges era admirador dele, e contribuiu com um texto para o famoso First Folio, a primeira edição das peças shakespearianas. 

Falk lembra que Shakespeare era contemporâneo de Giordano Bruno, John Dee, Francis Bacon, Montaigne e outros homens de ciência cuja obra ele bem podia conhecer, mesmo indiretamente.

Ele observa que Shakespeare tinha oito anos quando explodiu a Supernova de Cassiopéia, de 1572, e que talvez fosse essa a estrela brilhando “a oeste do polo” nas palavras da Hamlet. Em todo caso, essa supernova foi observada por Tycho Brahe, o maior astrônomo da época, na Dinamarca (a supernova ainda hoje é chamada “estrela de Tycho”). 

Brahe morava pertinho do castelo  de Elsinor (local da história de Hamlet). O astrônomo norte-americano Peter Usher vê em Hamlet uma alegoria entre as duas visões cosmológicas do universo, com a vitória final da teoria copernicana.  E observa que dois parentes próximos de Tycho Brahe chamavam-se “Rosencrans” e “Guildensteren”, dois personagens cruciais no desfecho da peça.

Clássico é um autor que disse tanta coisa que parece ter dito dez vezes mais.  Sempre há pessoas dissecando seus textos em busca de idéias marxistas ou ecológicas, em busca de segredos sexuais ou profecias apocalípticas. Em Hamlet o príncipe diz que poderia se imaginar “o rei do espaço infinito”, e isso dá uma lente moderna ao olhar que ele ergue para as estrelas. 

O Bardo dá um passo adiante de Camões, que em Os Lusíadas (1572) já havia descrito com olhos mistos de poeta, crente e cientista a “máquina do mundo”, ainda geocêntrica, um sistema de estrelas que, como a cultura Renascentista que o produziu, era um edifício religioso que foi implodido aos poucos pelo edifício científico que cresceu dentro dele.

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