(Philip K. Dick)
Apesar da comissão-de-frente de grandes romancistas
policiais (citando Agatha Christie, Dashiell Hammett, Conan Doyle e Edgar Poe), é
na FC que estão os melhores gimmicks (detalhes tecnológicos bem bolados) do
filme Minority Report, de Spielberg. Um exemplo: a operação de globos
oculares de Tom Cruise, que na primeira vez achei inverossímil e
anticientífica, mas desta vez vi apenas uma hora depois de ver uma foto de Alex
(Malcolm McDowell) no Laranja Mecânica de Kubrick. Há gimmicks que não
precisam ser 100% possíveis, desde que tenham uma idéia inovadora e
plausível, como é o caso de uma máquina
do tempo, por exemplo. De detalhes assim a FC está cheia. Neste caso, a
cirurgia dos olhos serve ao herói, Anderton, como um ritual punitivo com que
ele paga o direito de ser interpretado por Tom Cruise.
A melhor coisa do conto já era a premissa FC: polícia usa os
videntes precogs para prever os crimes futuros e evitá-los. Ela se torna essencial ao mistério
detetivesco (sem o Pré-Crime esta história não poderia existir). E faz um
paralelo interessante entre esse futuro que se pode ou não prevenir e aquele
passado que se pode ou não modificar. É simétrico ao Grandfather Paradox: Se eu
voltar no passado e matar meu avô, então eu não nasci, mas então se não nasci nada
disto aconteceu? Aqui é: Eu posso perceber que você está a ponto de cometer um
pecado mortal, mas eu vou lá e o obrigo a trocá-lo por um pecado venial, cujo
castigo é delirar no Purgatório, o que é melhor do que morrer. Para alguns.
O conto é do tempo de Loteria Solar, o primeiro
romance-pra-valer de Dick, em que o equivalente futuro ao presidente da
República é escolhido por loteria, e ao mesmo tempo é liberado um assassino
para matá-lo. É do tempo também do romance Eye in the Sky (1957), um dos seus
livros em que um grupo de pessoas é arremessado em universos paralelos
modelados pelas suas próprias mentes.
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