terça-feira, 7 de agosto de 2012

2943) Nome que dá sorte (7.8.2012)



Os adeptos da numerologia vivem mudando os próprios nomes para fechar uma conta cabalística qualquer, aí é uma tal de duplicação de consoantes, de inserção de “h” mudo a torto e a direito...  Funciona?  Sei lá. Mas a verdade é que quando um sujeito não se dá bem com o próprio nome, melhor mudá-lo por alguma coisa escolhida por ele mesmo. Dá mais certo do que os nomes que recebemos, à nossa revelia, quando nascemos e somos registrados.  A tradição do “nome artístico” vem um pouco daí, misturando a necessidade de evitar nomes excessivamente comuns, ou pouco eufônicos, por alguma coisa mais decorativa.  O cinema e a música popular estão cheios disso, e ainda hoje é um passatempo habitual das revistas de variedades fornecer uma relação de nomes banais ou impronunciáveis para que o leitor tente adivinhar quem é o famoso a que cada um deles pertence.

Alguns casos são mais interessantes.  Vi uma vez na TV um documentário sobre Bill Wyman, o baixista dos Rolling Stones (que já não pertence mais à banda desde 1993), no qual ele comentava o nome artístico que escolhera (seu nome original é William George Perks).  O verbete sobre ele na Wikipedia diz que ele quis homenagear um amigo com quem serviu na Força Aérea, mas nesse documentário que vi ele afirma que Bill Wyman era um colega de escola que era craque no futebol, e pelo qual ele tinha muita admiração.  E ele afirma: “Meu nome original estava associado a uma infância pobre, sofrida, numa família que não me compreendia e não me aceitava como eu sou.  Quando passei a me chamar Bill Wyman, foi como se tivesse me tornado outro indivíduo, mais seguro, mais tranquilo, e daí para a frente tudo mudou”.

Algo parecido aconteceu com Voltaire, o famoso escritor e enciclopedista.  Seu nome original era François-Marie Arouet, mas ele o detestava. Adotou o pseudônimo de Voltaire, em parte porque também tinha relacionamento difícil com a própria família, em parte porque aquele nome, em si, o desgostava.  Numa carta a Jean-Baptiste Rousseau, ele pediu que a resposta fosse endereçada a “Monsieur de Voltaire”, dizendo: “Fui tão infeliz sob o nome de Arouet que adotei outro, para não ser confundido com o poeta Roi” (no que parece estar se referindo a Adenes le Roi, poeta famoso da época).

Auto-estima e auto-imagem são duas coisas muito ligadas, e na impossibilidade da gente virar outra pessoa (como em filmes tipo Seconds de John Frankenheimer ou O passageiro de Antonioni) às vezes basta trocar de nome, e passar a atribuir a esse nome um personagem com qualidades que a gente não tinha e sem os problemas que nos infelicitavam

Um comentário:

Gustavo disse...

Um caso interessante é o de José Saramago. Seu nome na verdade deveria ter sido apenas José de Sousa, mas o funcionário do registro civil, bêbado segundo o pai, acrescentou o apelido da família no final. Saramago é um tipo de erva ruim. E como ficou interessante na capa de um livro! Incomum e enigmático.