Faleceu dias atrás, aos 91 anos, o cineasta Chris
Marker, o autor de La Jetée,
talvez seu filme mais conhecido. Mesmo
na tribo dos cinéfilos há muita gente que o desconhece, porque Marker escolheu
aquela forma peculiar de invisibilidade que é a direção de documentários. E ainda por cima aqueles documentários que
jamais se enquadrariam numa programação tipo Discovery Channel ou National
Geographic. Marker foi um dos sujeitos que mexeram no software do documentário, tanto quanto Robert Flaherty, Jean Rouch,
Eduardo Coutinho. Em 2009 o CCBB do Rio de Janeiro exibiu uma enorme mostra de
quase toda sua obra, que nos deu a medida da variedade de seus interesses e da
quantidade de material que produziu.
Os filmes de Marker foram chamados de “ensaios
cinematográficos” e de fato eles são o equivalente aos ensaios literários que
misturam o relato jornalístico, a ilustração com pequenos episódios ficcionais,
a associação livre de idéias, o memorialismo, o humor, o panfleto, a análise. Marker faz isso com imagens (de arquivo, ou
registradas por ele mesmo), áudio, e principalmente através de narrações em
“off”, recurso que ele sempre usou de maneira muito pessoal e enriquecedora. A narração em “off” virou no documentário o
que alguns diretores chamam, com bom humor, de “o último reduto dos covardes”,
ou seja, quando o sujeito não sabe usar as imagens para passar uma informação,
ele joga a toalha e manda um locutor dizer. Mas nos filmes de Marker as
narrações fazem um contraponto incessante com as imagens, e em alguns casos
pode-se dizer que são dois fluxos paralelos, um de imagem, outro de som, que
parecem realizados um à revelia do outro, mas convergem e se misturam na mente
do espectador.
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