quarta-feira, 23 de junho de 2010
2179) Alugue um superstar (3.3.2010)
(desenho de Pojucan)
Uma matéria de Geoff Boucher no Los Angeles Times aborda uma forma curiosa de privatização do show business. Alguém objetará que o show business já é privatizado, mas uso o termo noutro sentido. Em geral, um show é feito para uma platéia, que paga ingressos para assisti-lo. Shows em grande escala ao ar livre, com acesso gratuito, são pagos em geral por uma Prefeitura, que dá o show de graça para a população. Mas o que acontece quando um grupo reduzido de pessoas tem grana suficiente para contratar um show só para si? Empresas fazem isso o tempo todo, e casas como Canecão, Vivo Rio, Claro Hall e congêneres volta e meia estão sendo “fechadas” para a realização de um show só para convidados de uma empresa, que desembolsa uma nota preta por este privilégio.
Conta-se que num reveillon recente o cantor George Michael voou até a Rússia para cantar para os convidados do magnata Vladimir Potanin, recebendo o cachê nada desprezível de três milhões de dólares por hora. Qual é o advogado de Manhattan que ganha isso? Os milionários russos parecem propensos a esse tipo de dispêndio, porque Christina Aguilera recebeu 5 milhões de dólares para cantar no casamento de Andrei Melnichenko. Claro, não são só eles. Em 2002, a festa de aniversário de David Bonderman (co-fundador do Texas Pacific Group), em Las Vegas, teve o acompanhamento musical de Robin Williams, John Mellencamp e os Rolling Stones, a um custo total de dez milhões.
Não se escandalize vendo os míticos Stones envolvidos nisso. Muito mais mítico do que eles é Bob Dylan, e há cerca de dez anos ele fez um show (juntamente com o Wallflowers, a banda de seu filho Jakob) para a Applied Materials, uma companhia que produz semicondutores no Vale de Silício. Para muita gente, a concessão feita por Dylan foi uma espécie de sinal verde, pois “se o Bardo não se envergonha de faturar nestes termos, quem sou eu para ficar de fora?” Há pouco, a Genentech, uma empresa de biotecnologia, comemorou seu 30o. aniversário com um mega-show incluindo Dylan, The Eagles, os Foo Fighters e os Black Eyed Peas. A revista Rolling Stone ironizou os artistas dizendo que eles agora cantavam “no piquenique de uma empresa”.
Contratos assim seriam impensáveis anos atrás, mas estão se tornando cada vez mais numerosos. Em geral têm cláusulas estabelecendo que o show não pode ser divulgado, fotografado nem gravado. O produtor Robert Norman afirma que é cada vez maior o número de multimilionários capazes de trazer para sua festinha pessoal seu artista preferido, não importa o quanto custe. Que magnata resistiria a um pedido da noivinha para que seu casamento fosse musicado ao vivo por, sei lá, Celine Dion, ou Norah Jones, ou Diana Krall? Há artistas (diz Norman) que até agora não se dobraram a este mercado, e ele cita como exemplos Bruce Springsteen ou o U-2. Mas sempre existirão bilionários capazes de dizer: “Basta me dar o sim. O preço, diga à minha secretária”.
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